Outro dia eu conversava com o Pael (a quem devo muita coisa), e tive a idéia de escrever um livro e chamá-lo de: “Apresentando Deus a Saramago”, que seria uma grande síntese da manifestação de Deus à humanidade, que atingiu seu ápice na forma humana dessa manifestação divina: Jesus, o Cristo, a chave de interpretação de toda a história dessa manifestação.
O Pael, meu amigo, dizia ter lido “CAIM” de Saramago, o grande, no qual ele considera Deus o autor intelectual do assassinato de Abel, e mais: “Em 'Caim', José Saramago se volta aos primeiros livros da Bíblia, do Éden ao dilúvio, imprimindo ao Antigo Testamento a música e o humor que marcam sua obra. Num itinerário heterodoxo, Saramago percorre cidades decadentes e estábulos, palácios de tiranos e campos de batalha, conforme o leitor acompanha uma guerra secular, e de certo modo involuntária, entre criador e criatura. No trajeto, o leitor revisitará episódios bíblicos conhecidos. Para atravessar esse caminho árido, um deus às turras com a própria administração colocará Caim, assassino do irmão Abel e primogênito de Adão e Eva, num altivo jegue, e caberá à dupla encontrar o rumo entre as armadilhas do tempo que insistem em atraí-los. A Caim, que leva a marca do senhor na testa e portanto está protegido das iniqüidades do homem, resta aceitar o destino amargo e compactuar com o criador, a quem não reserva o melhor dos julgamentos”. (Livraria Cultura).
Diante destas verdades não resta outra coisa a não ser concordar com ele. Se olharmos não apenas este episódio, o crime de Caim, mas também inúmeros outros do Antigo Testamento, chegaremos à mesma conclusão do escritor português: Deus é implacável, maléfico, sádico e não passa de uma invenção de homens para subjugar outros homens.
Porém, Saramago e tantos outros se esquecem de um pequeno detalhe nesse caminho; um detalhe capaz de mudar toda a sorte de interpretações, e também capaz de mudar uma história, uma vida, uma eternidade; e qual seria esse detalhe? O CRISTO, Jesus.
Se tirarmos o Cristo da bíblia, seja lá de qual parte for, estaremos cometendo um erro sem volta, no que tange à interpretação coerente do texto religioso (mais do que religioso, este livro é de um poder espiritual e físico sem precedentes). E apenas para aguçar nosso paladar, como uma mostra do que será meu novo livro: “Apresentando Cristo a Saramago!”, aqui vai uma breve explicação do que aconteceu com Caim.
Este era o filho mais velho de Adão e Eva (pelo menos segundo o relato bíblico), e depois da queda do homem (o período posterior ao pecado na humanidade), estes levavam uma vida normal, trabalhando a terra para dela tirarem o sustento (algo muito semelhante ao que nós vivemos).
A história de Caim e Abel é recheada da participação de Deus, do amor de Deus, e da proteção de Deus. Culpá-lo nesse caso é como culpar o Hugo Chavez pela estiagem venezuelana. O fato de uma coisa ruim acontecer por natureza, não significa que alguém ruim a tenha causado.
Caim era agricultor e Abel pastor de ovelhas. Quando do momento de prestarem culto a Deus, o mais velho ofereceu ao Senhor alguns produtos da terra (e tenho certeza eram coisas boas), e o mais novo pegou o primeiro carneiro nascido no seu rebanho, mato-o e ofereceu as melhores partes ao Senhor (Gn 4).
Deus aceitou a oferta de Abel, e a Caim disse: “Por que você está com raiva? Se tivesse feito o que é certo, você estaria sorrindo; mas você agiu mal, e por isso o pecado está na porta, à sua espera. Ele quer dominá-lo, mas você precisa vencê-lo”.
Onde entra o Cristo nessa história? Eu respondo: na segunda chance dada a Caim. Jesus era o Verbo sempre disposto a perdoar, dar uma nova oportunidade. Cristo estava oferecendo remissão a Caim, mas ao invés de perdão ele preferiu pecar. E o restante do capítulo quatro de Gênesis continua a narrativa do restante da vida do primeiro criminoso da terra (ao menos segundo a tradição judaico-cristã).
Novamente Deus mostra sua misericórdia ao dar proteção para sempre a Caim com a marca que o protegeria de quem quisesse matá-lo (aqui surge uma nova pergunta: quem eram essas pessoas, se até este trecho das escrituras apenas quatro seres humanos tinham sido relatados?).
O que importa é que foi dada uma oportunidade a Caim, assim como a Abel, de oferecer como culto a Deus o melhor que ele tivesse. Da mesma forma que Deus deu o seu melhor para reconciliar consigo o mundo, Ele sempre desejou que o homem se entregasse totalmente a Deus, numa relação de dependência total criatura-criador.
Caim é só um estereótipo de pecadores muitos, que preferem a desobediência à vida eterna; porém, mesmo a estes, Deus, em Cristo, estende a possibilidade real de perdão e transformação. Cabe a nós, pecadores, escolher aceitar o perdão, arrependermos, e começar uma nova vida cheia de novidade, bênçãos, riso e glória.
Tudo isso estava disponível a Caim...
Eu escolhi, e você?
Soli Deo Gloria
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