Ele me faz deitar em verdes pastagens, às águas do repouso me conduz, ele me reanima. Pelos bons caminhos me conduz, para a honra do seu nome.
Mesmo seu andar por um vale de sombra e de morte, não receio mal algum, pois estás comigo: teu bastão e teu cajado me dão segurança.
Diante de mim fazes servir uma mesa, em face dos meus adversários. Perfumas a minha cabeça com óleo, minha taça é inebriante.
Sim, felicidade e fidelidade me acompanham todos os dias da minha vida, e retornarei à casa do Senhor, para longos dias”.
Ouvindo outro dia o mestre, C.F, falar sobre o este salmo, descobri o real sentido dos mais famosos versos poéticos da bíblia, ele quer dizer: O Senhor é o meu Pastor, logo é também o Senhor sobre meus desejos, de modo que nada que não seja a vontade dele, faz nascer em mim qualquer carência ou necessidade. Já que tudo o que preciso, ele me dá. Como diz, a tradução acima: Ele é meu Senhor, nada me falta. Ele me basta.
Eu posso (na verdade eu não o faço, mas milhares o fazem), pregar aquilo que eu quero sobre este salmo (já vem eu bater na igreja de novo – mas, faço isso porque a amo), eu sempre achei que a verdade era aquela que eu lia, sem discernimento como a esmagadora maioria, de que se eu o tenho como pastor, logo nada pode me faltar, pois sirvo um Senhor que me prometeu bênçãos. Que prometeu que nada que eu desejasse faltaria. Pelo menos é isso que se subentendesse.
Porém, infelizmente esse é mais um daqueles versículos que se usam a fim de provar a soberania bíblica do homem sobre Deus, fruto de criação coletiva que tem por detrás interesses mesquinhos e bastante particulares, do clero dominante e daqueles que lucram, de alguma maneira, com essa criação coletiva dependente e ignorante.
Esta má interpretação faz de Deus um simples serviçal das minhas vontades, um gênio dos meus desejos, um garçom da minha mesquinharia, e de sua palavra a prova, cabal e infalível, de que aquilo que determino é baseado naquilo que foi inspirado. De modo que eu possa anunciar a vontade divina de que eu prospere sempre, bem como a verdade humana suprema de que posso chamar à existência aquilo que não existe, a fim de dar veracidade à minha crença.
Sendo bem chulo e direto. Eu posso pregar prosperidade financeira, do tipo: Você é filho do Pai Eterno, e filho do Rei merece melhor casa, melhor carro, melhor emprego, enfim, você merece o que existe de melhor na terra; bem como posso determinar, ou chamar a existência, aquilo que não existe no plano terreno, mas que depende apenas da minha “palavra”, do meu verbo criador, para sair do plano espiritual e materializar em bênçãos, e bens, para mim.
Tudo isso, porque o SENHOR É O MEU PASTOR E NADA ME FALTARÁ.
Grande baboseira.
O SENHOR É O MEU PASTOR, NADA ME FALTA. NÃO DESEJAREI TER. NÃO SEREI DOMINADO PELAS MINHAS VONTADES. EU TENHO O QUE ME BASTA: DEUS, COMO SENHOR E PASTOR.
É isso o que a bíblia esta dizendo. Foi isso que disse Davi. Foi isso que Paulo entendeu quando pediu para Deus tirar seu espinho, mas ouviu de Deus: “A Minha Graça te Basta (...) o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza do humano”. Por isso minha taça esta inebriante. Por isso estou cheio de alegria. É por isso que consigo me regozijar e me gloriar na miséria e fraqueza.
Se eu entendo que Deus é o meu pastor, e que isso significa que nada me falta, que isso é tudo para mim, logo eu não preciso de mais nada. O inspirador dessas palavras, enquanto esteve conosco, como homem, viveu e pregou aquilo que ele era. Por isso disse que “não tinha onde repousar a cabeça”, por isso ele respondeu: “minha comida é fazer a vontade do Pai que me enviou”. Entendendo isso ele ensinou: “não ajuntem tesouros na terra (...), mas no céu”.
É como disse S. João da Cruz: “A vida de Cristo foi cruz e sofrimento, queres tu descanso e gozo?”. Mas a gente tem um poder medonho de deturpar a vontade e palavra de Jesus.
Nem quando Cristo orava por milagres, curas e sinais ele dizia: “para que eles creiam em mim”, mas quando ele ressuscita Lázaro, ora e diz: “eu bem sabia que tu me atendes sempre (...), a fim de que eles creiam que tu me enviaste”, antes ele disse: “Esta doença não é para morte, ela servirá para a glória de Deus: é por ela que o Filho de Deus deve ser glorificado”.
Depois disso, nós ainda o vemos dizendo: “Bom seria se não vissem, mas cressem”, ou seja, seria melhor que crêssemos nele simplesmente porque Deus, nosso Pai Celeste, é o nosso pastor, sem que precisássemos de tantos milagres para crer. O fato de Deus ser nosso Senhor e Pastor deveria bastar.
Mas, há tanto “aprendizes” de messias que às vezes duvido que a igreja possa sobreviver por muitos anos.
Outro dia, o apostolo do momento (ex-universal, agora mundial), orava dizendo: “para que este povo creia em mim, que tu me enviaste”. Seu ex-chefe, por outro lado, pregava que só não tínhamos porque não criamos, uma vez que aquilo que nós queremos e desejamos, já foi nos entregue e prometido na palavra.
E a multidão, que acabou de provar da multiplicação dos pães e dos peixes, continua seguindo o pregador, não por ele mesmo, sinais ou por sua palavra, mas porque comeram e gostaram do sabor do milagre.
Não há transformação outra que não apenas no objeto do milagre. Como foi com Cristo, assim também hoje. Se multiplica o pão, mas não se ganha o coração. E Deus continua dizendo o mesmo a todos nós: “É necessário que vos empenhais, não para obter esse alimento perecível, mas o alimento que permanece para a vida eterna, o qual o Filho do Homem vos dará, pois foi a eleque o Pai, que é Deus mesmo, marcou com o seu selo. (...) A obra de Deus é que creiais naquele que Ele enviou”.
Agora, para terminar, esqueça tudo o que eu disse. Continue seguindo seu “coração”, busque milagres, cace profetas, ore e determine, chame à existência, e submeta-se como um primata a autoridade do seu apostolo-bispo-profeta-padre-missionário-pastor.
Só não diga no dia final que não sabia quem você era, e que não sabia o que precisava saber.
Agora você sabe (no livro, poderá saber mais um pouco).
Soli Deo Gloria
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