Ando naquela fase meio cético,
duvidando de que o que bom triunfe sobre mau (mesmo sabendo que o Deus cristão
sempre faz prevalecer sua soberana vontade). Por isso ontem escrevi “A igreja
não tem mais jeito”, em virtude do mundaréu de parafernálias e escândalos que
grassam dentro das igrejas no mundo todo, em todas as religiões.
Todavia, hoje gostaria de pensar
sobre o ser humano, esse mesmo causador das mazelas religiosas que já relatei.
Nos últimos dias vivenciei duas situações envolvendo a mais cruel barbárie
perpetrada por seres que deveriam amar, mas que causam ódio, dor, mágoas,
feridas e sofrimentos; momentos nos quais nos indagamos se pena de morte é
certo, ou se é tão errado assim fazer justiça com as próprias mãos (sabendo que
se fosse conosco certamente desejaríamos a morte de alguém).
Por questões particulares,
frequentei a UTI Neo Natal por algumas semanas no último mês, um lugar
complicado, onde a preocupação e a esperança se misturam como que num misto de
choro e sorriso, lágrimas e suspiros. E
em meio a tanta fragilidade, cada bebê com uma história de nascimento
conturbada, risco de morte, problemas para respirar, problemas cardíacos,
enfermidades e perigos dos mais variados. Pequenas vidas que dependem
integralmente de frios (às vezes nem tanto) profissionais da saúde.
Pois bem, a rotina é estressante,
um som horripilante de um alternado e constante “pi...pi...piiii”, sussurros de
termos médicos indecifráveis aos leigos, cuidado extremado, higiene exagerada,
e uma dura realidade de apenas duas visitas diárias. Nas vezes que eu ia, sempre
via um dos bebês internados sozinho, dormindo solitário dentro da incubadora,
numa espera silenciosa de uma mão terna e materna, mas...nada!
Dia após dia o neném continuava seu
sono angelical, à espera do arquétipo divino do amor, a mãe, mas...nada! Sozinho,
dia após dia, a cena daquele pequenino ser humano, completamente desamparado, e
ao mesmo tempo completamente dependente me fazia duvidar que uma mãe era capaz
de abandonar o próprio filho à sorte, aos cuidados médicos de gente que ela
nunca viu, e sobre os quais ela nada queria saber, e deles nada podia obter.
O tempo passou, semanas, e a
notícia que recebi era de aquele bebê havia sido entregue para adoção. A mãe não
quis. Nunca vou saber porquê! Talvez por não ter condições. Talvez por ter sido
violentada e ver o fruto inocente da violência não a fazia superar o trauma. Talvez
por que já havia vários outros para ela criar, e mais um seria impossível. Talvez
porque dar a criança fosse, sim, a melhor escolha. Talvez...talvez...talvez...eu
nunca vou saber.
Independente do motivo, o fato é
que o mãe não pode, ou não quis visitar o filho que lutava pela vida numa UTI
Neo Natal, ela sequer foi vê-lo se recuperar, nem notícias ela queria ter,
foram os conselheiros do “conselho tutelar” que acudiram o recém nascido, uma
tenra vítima de um mundo cruel, onde a família de verdade não pode ser
estabelecida, onde a mãe precisa abrir mão do filho numa UTI, em condições tais
que a vida e a morte duelam numa jaula minúscula chamada incubadora. O amor
cedeu lugar à incerteza...
Ninguém sabe ao certo quem o
adotará; quais critérios a justiça irá utilizar para escolher a futura família,
ou quais motivos levaram essa futuro família a adotar uma criança. Que Deus, e os
seus, abençoem a vida daquele bebê.
A outra história é sobre um
garoto especial, com corpo de 18 e mentalidade de 03 anos. Não sei o que causou
esse problema, tampouco como resolvê-lo, mas sei que uma pessoa assim inspira
cuidados especiais; e mais, essas pessoas suscitam em nós um sentimento de compaixão,
daquele tipo que dizemos: “se eu pudesse fazer alguma coisa para ajudar!”.
Pois bem, esse menino é atendido
numa instituição onde uma pessoa próxima a mim trabalha. Ele é bem querido
pelos funcionários, interage, na medida do possível, com todos, que ressaltam
suas limitações, mas celebram suas pequenas conquistas, como conseguir
pronunciar uma simples palavra como “pescar”. Sua alegria em completar tarefas
banais é expressa por um sorriso e um júbilo dignos de nossa compaixão.
Essa semana o menino não apareceu
na instituição, sua ausência causou estranheza, foram perguntar por ele, e a
resposta foi estarrecedora: “Sabem o menino especial que foi violentado pelo
vizinho esse fim de semana? Então, foi o {...}”.
Isso foi ultrajante, revoltante, não
podemos aceitar calados esse tipo de barbárie; atrocidades cometidas contra
quem não pode se defender, e que talvez nem consiga medir o tamanho da violência,
mas, que com certeza, consegue sentir que foi violentado, machucado, ferido e
ultrajado. Como um ser humano é capaz de fazer isso contra outro ser humano? Igual
a ele...como?
Eu sigo sem entender como
conseguir amar a todos indistintamente, e cada história dessa me faz ver que só
Jesus poderia fazer o que a bíblia diz que ele fez. Ou esse amor transforma ou
perdemos tempo crendo numa mentira construída para impor medo e gerar
dominação.
Eu creio no Cristo que liberta,
no Jesus que ama sacrificialmente a mãe que abandonou o filho e o bandido que violentou a
criança, mas que os transformaria à medida que fossem amados e curados pelo
toque de amor que emana das mãos consoladoras do Espírito de Deus.
Ao filho de Deus todo o louvor!
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