Minha perfeita analogia...

Hoje (não exatamente hoje, mas  sexta passada quando escrevi isso – o que se arrasta até hoje, quem dia é hoje?), me senti como um jogador de futebol, não um jogador qualquer, mas um grande jogador, uma promessa do esporte, daqueles  que desde pequeno chamavam a atenção pela técnica, inteligência e habilidade, mas que por alguma motivo não tiveram uma seqüência obvia de sucesso contínuo.  

Um atleta cuja carreira não deslanchou como a imprensa previa. E não se tornou o novo Pelé. E digo a razão.

(Há um ano atrás, quase isso, eu escrevi algo muito parecido com o que digo agora. Meu sentimento é de rara semelhança  depois de tanto tempo transcorrido).

Com 16 anos esse “jogador” estreou no time principal, e marcou seu primeiro gol como profissional, logo no primeiro jogo, isso porque entrou nos 15min finais de partida, e ainda deu passe para mais um depois de um grande lance individual. O moleque (muleke) virou atração, a sensação do clube, todos queria vê-lo, a torcida gritava seu nome em todos os treinos e jogos, as maternidades registraram uma avalanche de nomes do muleke nos bebês nascidos na cidade natal dele. Ele já era uma estrela, blindada pela diretoria que tinha a esperança de que ele ainda renderia muito ao time.

O muleke agora é famoso. Dinheiro, prestígio, fama e mulheres (uma perfeita combinação para o desastre). Contudo, ele ainda dava seu show particular nos gramados. Um fenômeno que ainda daria muito o que falar.

Um dia, numa pelada qualquer, num campinho de várzea  qualquer, após uma noitada com os frutos da fama do esporte, sem muito reflexo, o muleke cai sozinho, pisa num buraco e torce o joelho, rompe os ligamentos, e...

Era véspera do grande clássico. A torcida o apóia, vibra e reza pela recuperação. Gritos de guerra e faixas de apoio enchem a frente do hospital, e na hora do boletim médico vem a trágica noticia, o balde de gelo nos torcedores, o principal médico do país diz que a lesão foi de rara gravidade, que dificilmente ele voltaria a ter 100% dos movimentos da perna machucada, a recuperação levaria de 15 a 24 meses.

Seria o fim do sonho?

A diretoria culpa o garoto pelo “acidente”; a torcida, atordoada, parece não acreditar. Sua mãe chora na entrevista, mas garante acreditar na recuperação do filho. Duas semanas após a operação ele sai do hospital e volta pra casa. Era o re-começo da estrada do sucesso. Porém...

No clube não permitem sua entrada, no centro de treinamento ele já não tem mais um quarto com seu nome; no jogo da última semana, outro garoto estreante usou a camisa com seu número da sorte. A diretoria do clube afirma que ele já não “presta” mais para o futebol, que eles não podem investir em algo incerto, apenas um provável sucesso, ele tinha tido sua chance, mas a deixou escapar.

A “casa cai” para o muleke. Os funcionários do clube são orientados a não tratá-lo mais como “estrela” do time.  Ele é barrado no Reffis do time; perde seu armário no vestiário; seu nome sai da lista do elenco; seu mundo desaba.

O futebol que um dia ele tanto amou, o esporte para o qual ele entregou sua vida lhe vira as costas. Agora ele apenas pensa em voltar a andar.

A magoa com o seu time do coração não tem cura, ele nunca mais vibrará com um gol de quem quer que seja que esteja vestindo a camisa que um dia ele usou com tanto orgulho.

“E agora?”, ele se pergunta!

Os planos da sua vida eram pautados no futebol.  Ele precisará descobrir uma nova razão para continuar vivendo e trabalhando. Ao invés da bola, agora uma maca, ao invés do campo, agora um enfermaria.

Mas, ele é bom, forte e fenômeno.

O mundo que o traiu e lhe virou as costas ainda há de reconhecer seu talento e sua volta por cima.

Na calada da vida, no silêncio de cada amanhecer, na nostalgia dos alvoreceres, e no mundo bucólico de sua dor ele re-começa sua jornada. O futebol ainda lhe move os sentimentos mais profundos. Ele crê que não apenas o coração, mas, como criam os hebreus, suas entranhas se movem em busca do mundo da bola.

Durante sua recuperação, em poucas oportunidades  é verdade, ele mostra que ainda nasceu para fazer sorrir o brasileiro. Toda vez que uma bola lhe para nos pés, uma lágrimas solitária escorre pelo rosto que já começa a ser marcado pela idade. Aos poucos o ar de menino, a aparência jovial que fazia com que os zagueiros não lhe respeitassem, vai dando lugar ao corpo de homem.

Até que um dia, brincando com a família, marca um golaço, dribla, passa, brinca e...se machuca...

Mas, ele é guerreiro, tem um objetivo, um sonho e um ideal a cumprir...

Essa história, nem tão comum assim, é muito parecida com a minha história. Não preciso entrar e esmiuçar detalhes e diferenças entre elas. Tenho certeza que para um bom entendedor a analogia basta.

Estou me recuperando da minha terceira ou quarta lesão.

Não é o estádio minha casa, é a igreja; não é o gramado onde mostro o talento que Deus meu deu, é no púlpito; não é a bola uma extensão de mim, meu caso de amor é a bíblia; não é a torcida que chorou com minha contusão, foram meus amigos; não foi um clube quem me virou as costas, foi uma denominação.

Eu tenho um dom. e como disse o R9 na em seu triunfal retorno: Deixando a modéstia de lado, esse momento (o gol) eu domino a perfeição. Se não, não tinha chegado onde cheguei”. Eu penso por aí...

Um dia, com humildade, voltarei para o lugar que Deus sempre quis que eu estivesse.

A Ele, que me criou e amamentou com amor e palavra, toda Glória!

Comentários

Luís Lemos disse…
É aquela velha história quando caímos aparecem mil e um neguinho pra te empurrar ainda mais pro fundo, mas são poucos que te estedem a mão e te ajudam a levantar. O importante é não esperar nada dos outros e sim usar o tombo pra pegar um impulso ainda maior...