Depois de assistir essa reportagem: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1678728-15605,00-MILHOES+DE+ESTUDANTES+NAO+TEM+O+NOME+DO+PAI+NA+CERTIDAO.html
Cheguei a algumas conclusões interessantes, profundas, marcantes, recheadas de pitadas de evangelho, e com um aprofundamento na alma que pode causar estragos ou curar feridas (pelo menos em mim).
“Pai”!... Assunto complicado para a maioria de nós. Talvez porque vivamos numa sociedade onde não é tão comum que os homens sejam bons criadores de seus filhos. A cultura do “provedor” acaba por distanciar a cria do progenitor. Outras inúmeras mazelas, ou razões – sendo mais eufemista –, podem distanciar um pai do filho: um vício maldito como a bebida, a droga, o jogo, o sexo; traumas de criação que impedem o pai de se relacionar com seu filho; problemas psíquicos hereditários ou até mesmo aqueles criados pela presença indesejada de uma criança na qual se enxerga não um filho carente de cuidado, mas sim um adversário carregado de ameaças; um caso extraconjugal ou uma simples pulada de cerca que acabaram por gerar um filho numa mulher qualquer, num lugar qualquer sem relevância para o garanhão procriador; outros finitos motivos podem separar um pai de um filho, na hora que ele nasce ou em qualquer outro momento de suas vidas, deixando marcas indeléveis em ambos, seja qual for o momento que isso ocorrer.
Independente do motivo é certo que em dado momento da vida de um ser humano ele irá sentir falta do pai. E, por mais indesejado ou não planejado que tenha sido o nascimento da criança, isso afeta a vida de duas pessoas por toda a eternidade (se você não crê no eterno, leia que o resultado dura uma vida toda). Por mais que se negue, ou se tente fugir, a pessoa nunca descansará na busca de saber quem é o pai, ou porquê o pai o largou, porque nunca voltou, porque não o quis, porque ainda não o quer, enfim...são os muitos os porquês.
Isso deixa marcas no filho, talvez mais do que nos pais. Se a mãe esconder ou mentir a identidade do pai, este nunca saberá do seu legado em forma de ser humano, porém o filho viverá buscando saber de onde veio aquela marca no braço, o porquê daquela cor de olho, o cabelo liso com mechas grisalhas tão novo, etc, coisas que a genética visível da mãe não consegue explicar.
Talvez você tenha tido um pai presente, ou não. Talvez seu pai faleceu quando você era uma criança e a figura dele habita apenas sua imaginação de reencontro espiritual futuro. Talvez seu pai tenha sumido por muitos anos, por causa de uma mulher, um serviço, cachaça ou qualquer outro motivo, e um belo dia resolver aparecer como se nada tivesse acontecido, e você se viu obrigado a tratar feridas do passado na marra, enfrentar seus traumas e seus medos ou fugir dele e nunca se encontrar como pessoa. Talvez seu pai tenha sido presente durante sua criação, mas ao mesmo tempo pouco se ligou em você, era como uma figura totêmica e ausente dentro de casa, estar ou não ali pouco importava porque de fato ele nunca esteve.
Talvez você tenha sido criado por um pai separado que te via nos fins de semana mas que sempre demonstrou que te amava, ou nem tanto; e, ainda, talvez você tenha sido um filho de um bom pai que até hoje é seu herói.
O fato é que, excluindo o ultimo caso, quem não teve um pai presente cresce cercado por possíveis traumas, feridas, dores, ansiedades, inseguranças, e outros sintomas psíquicos com os quais dificilmente saberá lidar com plenitude e maestria de quem os quer dirimir por completo.
Quero chamar a atenção para um sintoma que acredito ser, se não o mais, um dos mais significantes e visíveis: a rejeição e, para tanto, não quero entrar em detalhes psicológicos de tratamento, não sou habilitado ou gabaritado para tamanha potencialidade de cura. O que eu quero dizer é como isso pode nos fazer mal.
Mesmo que eu não tenha sido rejeitado abertamente pelo meu pai. Talvez você nunca ouviu dele: “Eu não gosto de você!” ou “eu prefiro seu irmão!” ou “suma daqui!”, as vezes você se sente rejeitado por Deus, o culpando por não ter te dado a chance de ser criado numa família normal, com pai e mãe que te mostravam diariamente que te amavam tanto que dariam a vida por você ( imagino que isso seja muito bom).
Não quero aqui criar um espaço de desabafo, não pretendo, e também não posso dizer que sou uma vitima cruel da rejeição, existem piores por ai, muitos; o que eu quero é contar como venci, e venço diariamente, a rejeição, ou algo parecido com ela.
Por muito tempo eu busquei aprovação, e nisso não sou diferente de ninguém, mas, hoje acredito que sei quem sou, e sem quem Deus é, e isso basta peremptoriamente.
Mas, não foi fácil o caminho até hoje, passei por duras provas, a maioria delas tendo apenas minha mãe do lado, alguns amigos às vezes, mas sempre era EU quem decidia. Foi assim que alcancei minhas maiores vitórias e minhas maiores derrotas. Houve um tempo em que eu sonhava ganhar dinheiro e pagar ao meu pai tudo quanto ele havia gastado comigo até a faculdade, mesmo que ele nunca tenho pedido tal coisa, mas por algumas razões que não convém dizer, eu sonhava com isso.
Mas, passou, graças a Deus. Sei que meu pai ficou feliz com minha formação, e se pudesse teria feito até mais, mesmo que não deixado isso tão claro. Os traumas que o divórcio dos meus pais provocou foram quase que imperceptíveis em mim, porque Deus já vinha falando comigo, por muitas maneiras, quem Ele era. E isso fez toda a diferença. Saber quem Deus é.
Quando consegui encarar o fato de ter caminhar sozinho desde cedo, de ter sido feito adulto mais cedo do que a grande maioria, me deparei com uma rejeição que poderia ter me matado se Deus não tivesse deixado claro novamente quem Ele é.
Fui rejeitado durante o tempo de formação teológica, porque não me parecer com um “seminarista” (isso sem contar a infância pentecostal na qual era rejeitado “por ser crente”), logo depois fui rejeitado pela minha primeira igreja “por ser novo demais e não saber o que estava falando”, em seguida fui rejeitado pela minha denominação “por querer fazer da convenção uma igreja”, depois fui rejeitado pela minha igreja “porque meu pastor estava ocupado”, fui rejeitado em alguns púlpitos por ser uma “ameaça ao pastor da igreja”, em outras fui rejeitado “por não ter condições morais de assumir um púlpito”, fui rejeitado nas reuniões pastorais por ser “aparentar ser novo demais e ser solteiro”, já fui rejeitado porque gosto de “mulher e cerveja”, já fui rejeitado porque causar “ciúmes da mulher do pastor”, já fui rejeitado até por usar “brinco e boné dentro do TEMPLO SAGRADO”, já fui rejeitado por “incorporar o David Quinlam durante a ministração do louvor”, inúmeras vezes fui rejeitado por “perguntar demais”, e como se não bastasse já fui rejeitado por querer trabalhar “só com pobres e drogados”, e até “por falar demais de missões”, como isso fosse apenas estratégia de crescimento de igreja.
Hoje eu olho para minha vida com um orgulho absurdo de tudo o que vi e vivi; errei muito, é verdade, mas estou desfrutando de uma paz tremenda.
Podia chorar e dizer que cansei de ser rejeitado. Cansei de ser colocado de lado. Cansei de ameaçar. Mas, eu não cansei. Eu continuo seguindo o meu caminho. Foi isso que Deus me mostrou: “HEI, MENINO, SIGA SEU CAMINHO”
E nem faço uso da máxima: “o que é meu ta guardado”, porque o que é meu já está pronto. Está no céu ao lado de Deus Pai, e também no meu coração. Isso é absurdamente reconfortante.
Levei muitos anos para entender quem Deus é. Ele é AMOR. ELE É A PERFEITA MANIFESTAÇÃO DO PAI. ELE É O QUE TODO HOMEM SONHA QUANDO FALA DE PAI.
Quando se tem Deus como PAI, você fica tranqüilo, porque nos vemos como crianças nos braços do pai. É como a canção aconchegante que o Fabio Jr canta, desejamos arrumar desfrutar do café na mesa com nosso pai.
Eu sei que não é fácil enxergar Deus como pai. Isso porque nos falta o referencial terreno de pai, de modo que não conseguimos reproduzir em Deus uma imagem que nos foi sacada no homem. Mas é possível. Experiência própria!
Podem me rejeitar tanto e pelos inúmeros motivos que quiserem, EU SEI QUEM EU SOU, E SEI QUEM DEUS É.
É verdade que a vida nem sempre é boa, afinal não temos a proteção paterna o tempo todo, mas Deus nos prometeu estar conosco sempre. E isso é VERDADE.
Pena que eu tenha demorado tantos anos para desfrutar dessa paz que vivo hoje!
Paz, é isso que eu sinto. Encare Deus como pai, ou peça para que Ele se mostre Pai. É muito mais do que dar alguma coisa, é SER alguma coisa. Deus é Pai. E não um provedor ausente que nos presenteia para compensar a carência.
Ele não nos abandona um segundo sequer, insiste em nos cuidar, e nos amar o tempo todo, falando no fundo do nosso coração, nos fortalecendo nos momentos de fraqueza, não levando em conta nossa humanidade caída e pecaminosa, tampouco minha beleza, conta bancaria, ou minha cor, meu sexo, minha orientação, meus gostos, meus desgostos, SIMPLESMENTE AMANDO.
Eu ainda não sou pai, mas quando for quero ser o pai que Deus é para mim!
Enquanto isso, me contento em amar quem precisa de mim, mesmo me chamando de ladrão, bixa, maconheiro, cachaceiro e mulherengo, que enxerga os outros fazendo do país e da igreja um grande puteiro, atrás de dinheiro e de mulherzinhas de cabeças fracas...
A Deus, meu pai e pai de Cristo, a glória!
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