Ainda essa semana eu vi, na verdade não ao vivo, apenas ouvi, ou melhora ainda, eu li a respeito: que três “infiéis” ( os músicos Moraes Moreira, Tom Zé e o diretor de cinema Henrique Dantas), em entrevista ao programa do Jô, disseram que fumaram maconha com paginas da bíblia (na verdade foi mostrado um trecho do filme, onde se relata que os músicos dos “novos baianos” fizeram isso em tempos idos). Pronto; foi o estopim para mais uma cruzada cristã aos infames pecadores.
Mesmo os séculos de malfadados exemplos de perseguição religiosa parecem não terem ensinado nada à igreja, uma vez que ela continua a repetir os mesmos erros. Por quê digo isso? Porque depois disso se iniciou uma perseguição aos infiéis.
Desta vez, capitaneados pela versão moderna e bizarra de “patriarcado”, os crentes se puseram a bradar contra o que eles, ou nós (pra deixar de ser babaca, e me reconhecer no meio deles), chamamos de “afronta à fé cristã”. O que se vê desde então são manifestações evangélicas que pululam cobrando retratação: uns querem que o gordo mais gênio e soberbo do país se desculpe por ter aberto espaço para que hereges “queimasse profanamente a carta magna” (http://noticias.gospelmais.com.br/musicos-mpb-afirmam-usado-paginas-biblia-fumar-maconha-27850.html); outros desejam que os artistas cantantes venham a público dizer que erraram ao enrolar a erva com um salmo qualquer (deveriam ter usado só a Torá ou os evangelhos, já que quase ninguém entende mesmo).
Pobre erva. Pobre novos velhos baianos. O Moraes terá que fazer sua “festa do interior” no interior da terra, num lugar bem quente e que nem foi feito pra ele; o Tom terá que fazer sua “conto de fraldas” virar um conto de fraldas suadas, porque vai ser quente sua nova morada. E o Dantas então, seu próximo filme terá de ser o “a vida diária de um capeta”. Estes infiéis agora são alvo da fúria dos “justos fieis”...seu destino, oh infiéis, é a morada-mor da dor, onde o mármore queima incessante e diariamente, no hades eterno da alma...a menos que....
SE ARREPEDAM...
...se voltarem atrás no que disseram, freqüentarem nossas igrejas (melhor ainda se for numa que esteja sob a unção do ex-pai de santo, ops, ex pai apostolo), se nos devolverem o dízimo (ta bom, vai lá, como nunca fizeram isso...7,5%, 5%..ta valendo), e prostrados nos adorarem, a nós evangélicos, salvos pela graça e, divinamente, detentores dela...bom, se não fizerem tudo isso, nós, igreja, condenaremos vocês.
SAIBAM QUE SOMOS MUITO BONS NISSO. TENHAM CERTEZA, FALO SÉRIO, VÃO SE SUPREENDER COM NOSSA CAPACIDADE DE JULGAR E CONDENAR.
Os mais fervorosos já buscam seguidores para a fogueira social em que vocês estão sendo colocados, uma espécie de fornalha ardente pós-moderna-virtual, algo tão bem conhecido por Sadraque, Mesaque, Abednego e Jesus (isso mesmo, era ele quem estava com eles, pela graça). Muitos postam, outros compartilham, a maioria só “curte”, e desse modo a temperatura do fogo vai subindo. Já nos exultamos só de imaginar os “diabos” tomando conta das almas e corpos destes pecadores infames.
Ok...ok... Ok...ok... Ok...ok...
Não precisa me aplaudir, eu nasci numa igreja neopentecostal, migrei para uma tradicional, fui pentecostal, e depois avivado...por isso captei tão bem a intenção do coração evangélico (pelo menos dessa parte condenatória que grassa dentro da igreja).
Graças a Deus. SOU LIVRE. E olhando para mais essa situação gospel, chego à terrível conclusão de que mais uma vez DEMONIZAMOS O SER HUMANO, E ENDEUSAMOS O DEMÔNIO. É por isso que os evangélicos querem travar uma batalha com os “infiéis”.
Acreditam os crentes, que é o diabo, pretenso inimigo de Deus segundo eles, o responsável por uma besteira dessas, de modo que ao combatermos esses que agem contra o "cristianismo", cremos, os crentes, que estamos combatendo o próprio Satanás. É ai que iniciamos veementemente nossa luta contra a carne e o sangue (é isso que a bíblia diz??? são contra esses que lutamos???)
Nós ensinamos aos muçulmanos como guerrear em nome da fé; nós propagamos uma imbecil e asquerosa intolerância religiosa. Nossa jihad é travada desde o decepar da orelha de Malco (isso sem levar em conta toda a graça, apenas seu tempo d.C). E nenhuma ação de Cristo parece ser suficiente para ensinar seus seguidores.
A maioria dos que criticam nem assistiram à exibição da reportagem, que era para lançar o documentário “Filhos de João Admirável Mundo Novo Baiano”, um longa-metragem, que retrata parte da história do grupo musical Novos Baianos e as diversas influências provocadas pelo convívio com João Gilberto. Mostra um recorte entre os anos 60 e 70, ambientado no Brasil regido pela ditadura militar
Engraçado que, para variar, sempre nos calamos quando o assunto é a liberdade cerceada no país durante os anos de ditadura, mas nos armamos até os dentes para combater a afronta religiosa.
Não defendo que o uso da bíblia para qualquer fim, mas também não cabe a mim o papel de advogado das Escrituras. O que são elas sem o Espírito??? O que é a bíblia sem a presença viva e real de Jesus em cada página dela???
Esquecemos-nos de fomos chamados para testemunhar, e não defender Jesus. Ele faz isso sozinho, aliás, não há essa necessidade, Ele já venceu! Nós que ainda precisamos labutar, Cristo já pagou preço, já conquistou sua vitória, e é nela que nos alicerçamos, de modo que quem se apóia nessa vitória, conquistada na cruz, não precisa defender acusando, e sim: TESTEMUNHAR AMANDO.
Não vou me aprofundar no assunto, eu já falo disso há muito tempo. Podia perder horas e linhas para citar exemplos de vezes em que nossa acusação serviu para afastar da graça, quando na verdade nosso papel sempre foi de atrair para a graça. É como Paulo escreveu para Tito em Creta: que nossa conduta deve ser atraente para os que não conhecessem nosso Salvador (Tt 2:10). E o que fazemos? ACUSAMOS.
Que atrativo há em acusar? Quem se sente atraído por uma comunidade que aponta o dedo para meu erro, que o acusa e tenta convencê-lo à força de sua doutrina? Acaso somos nós que convencemos? Deus precisa da minha apologética para se sentir seguro? Quando interrogados, Jesus disse que falássemos o que nos viesse à boca? Ou seria o Espírito que falaria da parte dele? Eu nunca pequei para acusar? O que seria do homem se fosse julgado por outro homem?
Responder a isso nos dá a luz para viver o evangelho. O Evangelho que nos torna iguais. Iguais diante de Deus, que não faz distinção de pessoas.
Não importa se o cara fez o baseado com a página da bíblia, o extrato do banco, a folha do caderno de desenho, a seda que comprou nos aviamentos; não importa se o cara nunca fumou, nunca sequer sentiu vontade; não importa se o cara nasceu para ser pastor, ou foi criado para ser ladrão; não importa se prefiro queimar uma erva do que cantar um louvor; não importa se eu amo a Cristo mais que tudo; não importa se eu vivo dizendo pra Deus que o sirvo e o amo, e também não importa se sequer ouvi falar de Jesus.
É como diz a música do link aqui: Deus me ama :
Então, deixe de lado o julgamento e a condenação. Se você, irmão, enxerga quaisquer pessoa como sua inimiga por causa da fé, lembre-se do ensinamento de Jesus: ... amem os seus inimigos e orem pelos que os perseguem (Mt 5:44).
Bora assistir o filme, aprender um pouco de história...e orar para que sejamos não quem ama e respeita a bíblia, mas quem vive o que Jesus falou!
Soli Deo Gloria
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