Há algum tempo eu lancei essa idéia no blog, de produzir um artigo sobre nosso ultrapassado, velho e cansado Cantor Cristão (e ai você pode incluir no bojo a harpa, o hinário e todos estes deste mesmo modelo arcaico). A idéia era essa:
“Clangoris Vis" - O hino 560 do HCC trás essa pérola da música antiga e enfadonha tão comum em cultos batistas. Eu duvido que 10% de quem canta essa canção retrógrada tenha idéia do que vem a ser um "clangor"...”.
E isso já tem pra lá de um ano. Semana passada ouvi outro que re-inspirou ao trabalhar este tema, que foi: “(...) As bênçãos vêm do Redentor em régia profusão, em régia profusão. Oh, si, em régia profusão”.
Ai eu paro e pergunto: Você sabe o que significa Clangor, vil, régia ou profusão?
Muito provavelmente sua resposta será NÃO, e com isto eu não estou te depreciando ao afirmar que você não sabe a resposta, apenas o estou comparando a mim e a todos os outros que conheço, e a todos os outros conhecidos dos meus conhecidos, e dos conhecidos dos conhecidos dos meus conhecidos, e por ai vai...
Agora eu sei o que significa cada palavrinha “desusada” dessa, mas para isso eu tive de parar um tempo e procurar nosso pai (o antigo campeão olímpico de judô, o salvador “Aurélio”). Esse tipo de hinário propala (que significa divulgar em grande estilo) uma herança burocrática, escravocrata e sectária, bem como uma origem estrangeira de dominação e colonização opressiva.
Não há, creio eu em minha já conhecida ignorância histórico-evangélica (estou sendo sarcástico e irônico), grande influência (para não dizer NENHUMA) brasileira na maioria dos hinos que compõe o cancioneiro tradicional protestante. E isso precisa mudar. Na verdade, isso precisa acabar.
Arrego com essa idéia de preservar nossa tradição histórica musical, ou de que o hinário ajudou a salvar muitas vidas, pro inferno (olha ele ai de novo) com tudo isso. O que salvou, salva e salvará sempre será a PALAVRA PREGADA seja ela de que forma for, ela salva, E SÓ ELA.
Eu confesso que já fui, e já disse isso antes, um babaca tradicional e fundamentalista, que cheguei até a questionar o uso de musicas de rock dentro da igreja: QUANTA IMBECILIDADE!
Hoje em dia, o que me faz mal é ouvir musicas como: “Pão da vida, pão do céu, pão que trás ao coração..la la la”, ou “firme nas promessas do meu salvador...” ou pior ainda “mas os seus clangoris vis não podem me abalar...”, no exato instante que ouço isso da minha cabeça saem aqueles balõezinhos com os dizeres: “SEGREGAÇÃO RELIGIOSA...PRECONCEITO...ANTIQUADO...DOMINAÇÃO ESTRANGEIRA”, e tantas outras que penso mas que não são passiveis de serem divulgadas.
Agora um pouco mais calmo e sereno (eu comecei esse post ontem e termino hoje), penso que não é o cantor em si que me incomoda, nele até existem algumas musicas interessantes (poucas é verdade), o que me incomoda é a noção comum nos fundamentalistas de que existem músicas sacras e músicas profanas. SACRALIZAR COISAS ME FAZ TÃO MAL QUANTO UM LITRO DE ABSINTO PURO.
Já experimentei a oportunidade de ganhar um “COMPLEMENTO” de bíblia, a saber: um Cantor Cristão, pois eu não tinha, eu e já era pastor. Na época, aceitei relutante, mas calado, haja vista aquele ser meu primeiro contato verdadeiramente ministerial. As poucas vezes em que eu não prestigiava o HCC no culto, vinha sobre mim um enxurrada de críticas; as vezes em que eu trocava o ritmo de um famoso “corinho” (ow nome feio esse) eu era considerado “mundano” (prefiro ser mundano que marciano) (eu trocava o velho ritmo americano enfadonho, por um xotezinho nordestino).
Um relicário de segregação tem como símbolo esses hinários antigos, com melodias cansadas e estrangeiras, e cheios de letras que o povo não entende. Mas também tem como símbolo “homens de deus” que estão acima do próprio Deus. Tem também dízimos cerimoniais capazes de inocentar. Sem nos esquecermos da bajulação e flerte com o poder e a riqueza.
A gente tem uma capacidade enorme de tornar santo aquilo que não passa de um objeto de apoio ao santo (que sou eu, que é você, que é o outro). Devíamos tornar santo os outros, da mesma forma como Cristo fazia. Eu duvido que Jesus se importaria com HCC, Harpa, célula, velhas veredas, e toda essa baboseira que a igreja fez questão de colocar em um pedestal e adorar.
Eu volto a cair na mesma encenação patética que tenho feito já há muito tempo: NÃO IMPORTA NADA, O QUE IMPORTA É O “OUTRO”, O PROXIMO.
Não importa se eu gosto ou não dessa porcaria americana antiga de HCC, não importa se eu gosto ou não dessa porcaria de veredas, não importa se eu gosto ou não de apóstolos vagabundos, o que importa é: O QUE SERÁ BOM PARA QUE O MEU PRÓXIMO SE ACHEGUE À GRAÇA!
Pronto. Simples assim.
Judas estava certíssimo, da ótica evangélica farisaica, quando disse: “Por que não se vendeu este óleo perfumado por trezentos denários e se deu aos pobres?”, isso quando Maria tomou quase meio quilo de óleo perfumado, nardo genuíno, muito dispendioso, e untou os pés de Jesus e enxugou os pés dele com seu cabelo. Seria muito melhor para todo mundo que Jesus a tivesse proibido e revertido toda essa grana para ajudar muita gente.
Porém, para Jesus o que importava era o “outro”, a “outra” nesse caso, o “PRÓXIMO”, ele disse a ela: “Porque a estão incomodando? Ela me fez uma coisa boa. Os pobres estarão perto de vocês o tempo, e sempre vocês poderão fazer o bem a eles. Ela fez o que podia, antecipou-se a preparar o meu corpo para a morte. Eu lhes garanto que em todo lugar do mundo onde a boa noticia de que eu nasci e morri por vocês for anunciada, também será contado o que ela fez, para que o mundo também se lembre dela”.
Vamos nos preocupar com aquilo que importa para o MEU próximo, e não com aquilo que será bom para o mundo. Nós somos muitos limitados. O próprio Jesus se preocupou com quem estava mais próximo a ele. Uma lição de evangelho e vida!
Eu completo a famosa frase: “de que adiantar ter o mundo inteiro e perder sua alma? DE QUE ADIANTE QUERER SAQUEAR O INFERNO SE NÃO ME IMPORTO COM QUEM ESTÁ AO MEU LADO!
Infelizmente, isso que creio é pura utopia evangélica...sonhada por um bastardo excomungado.
E, como cantou Chico Buarque, assim eu encerro mais esse pensamento insano :
“Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
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