Eu pensei em escrever muitas coisas em 2009, mas principalmente neste final de ano uma coisa não me sai da cabeça, uma coisa que me incomoda bastante, algo que vive martelando dentro de mim, como uma conta a pagar para a qual você não tem o mínimo de recursos.
Muita idéia mirabolante surgiu sobre essa coisa, quase todas elas depreciativas, com títulos de baixo calão, mas que refletem aquilo que é verdade, pelo menos é uma verdade de um ponto de vista extremamente peculiar. Ma s, hoje eu pensei um pouco diferente, e vou aproveitar o embalo para produzir alguma coisa que não seja escandalosa nem tampouco vulgar e corrosiva.
Em 2009 eu fecho um ciclo de...de...de...(infelizmente vou de usar essa palavra, pois não encontrei outra mais apropriada) de desilusão, fracasso e perdas (eu queria mesmo era dizer ‘merda”).
Foram três anos, exatamente meu tempo de ministério, onde as demasiadas derrotas e decepções conseguiram macular e sobrepujar as vitorias e conquistas que possam ter acontecido neste período.
Não vou entrar em detalhes destas perdas (o livro fará isso por mim, assim como o blog tem feito durante todo este tempo), mas o fato é que eu perdi mais do que ganhei, fracassei mais do que venci, desisti mais do que perseverei, bebi mais do que orei, chorei mais do sorri, lamentei mais do que tive esperança , li mais do que fiz, enfim, eu tinha outros planos para minha vida ministerial .
Não que eu seja o responsável por tudo, algumas coisas foram de inteira responsabilidade minha, eu cheguei a lutar por um espaço, batalhei pela verdade, preguei a verdade, mas perdi para a deturpação sistêmica religiosa.
Por mais de uma vez durante esse período eu perdi o chão. Foi tirado de mim aquilo que eu mais amava. Parte da igreja a quem eu devotei tudo de mais sagrado que eu tinha foi capaz de me pisotear enquanto eu gemia agonizante por socorro.
A igreja me mostrou a verdadeira face do ser humano mau, mais do que presídios, organizações, hospitais ou manicômios, foi a igreja que me assustou com sua monstruosa face vil. Eu podia ter morrido. Eu morri. Doeu e morri.
Uma vez morto por aqueles que se diziam “homens santos” eu podia, agora, me virar para Deus e lançar uma enxurrada de xingamentos aos céus, eu teria razão. Foram os “dEle” que me mataram. Lançaram-me na cova dos leões, fiz amizade com o bichano (o rei das selvas) e quando eu confiei nele ele me comeu, ou melhor, me devorou, acabou com a minha vida. O leão aqui é comparativo de quem eu confiei: pastores, amigos, mundo, família, enfim todos os que me viraram as costas. E isto foi de todos os lados.
Antes, preciso contar que muitos amigos e, principalmente, parte da família estiveram dispostos a serem devorados pelo leão para não me abandonar. A eles minha eterna gratidão.
E Deus?onde estava quando os seus me matavam?
Ele estava onde sempre esteve: MOVIDO DE INTIMA COMPAIXAO.
Eu não xinguei Deus, não neguei minha fé, não omiti o ministério, não deixei de ir à igreja, não abandonei o titulo que alcancei com tanto amor (no último ano antes do ‘triênio de m...’), não deixei de crer, preguei quando pude, falei de evangelho até nas horas impróprias, respondi ser pastor quando a ocasião transformava a resposta em loucura e gritei, e ainda grito, para todo mundo ouvir que o desejo maior do meu coração é pregar o evangelho.
Isso ainda queima em mim. Isso ainda me faz chorar. O evangelho ainda mexe comigo. Deus ainda me ama e eu ainda o amo.
Eu comecei a entender melhor Deus quando estive afastado do meio dos que se auto-propagam “homens dele”, entendi Deus porque ele me entendeu, me ouviu, me perdoou e ainda se comove com a minha dor.
Ao entender Deus eu entendi melhor o outro, e ao entender o outro eu entendi melhor a Deus, ou vice-versa. Foi por mover-me de intima compaixão pelo “outro” (famoso “próximo”), que consegui amar melhor, perdoar e arrepender, dar e não reter, receber e agradecer, oferecer e abrir mão.
Uma vez eu senti isso por um homem idoso numa igreja qualquer por ai que sinalizou dizendo que queria Cristo como Senhor de sua vida. A extrema humildade daquele homem experiente moveu meu coração de uma ÍNTIMA COMPAIXÃO, um sentimento tão terrível e terno, tão assustador e acalentador, tão calmo e tão tormentoso. Uma sensação de antítese rara em si mesma, posto que a única coisa que eu podia fazer era pedir por uma eternidade gloriosa pra ele.
Acredito que tenha sido este mesmo sentimento experimentado por Cristo quando viu a multidão amontoada a seus pés, que o bom Samaritano sentiu pelo desgraçado judeu, que teve o pai do filho pródigo, enfim...eu senti isso, e sentindo isso, senti que Deus sente isso por mim.
Ele, Deus, tem uma compaixão única e estonteante por mim, e pela humanidade (por isso EU não mando ninguém para o inferno), e como eu posso brigar como quem me ama e se move por mim?
Eu encerro um ano de luta, com a certeza de que perdi muitas vezes. Encerro o ano ainda vendo mais a poeira do que o sol. Encerro o “triênio de m...” com a firme convicção de que Deus estava do meu lado. Se não fosse ele eu nunca teria ressuscitado espiritualmente. Minha morte nesse caso foi extremamente importante para o restante da caminhada. Como o morrer da semente, como o podar da árvore, como o fender do casulo.
Às portas de um novo ano...eu apenas agradeço a Deus pela compaixão a um bastardo, louco e martírico...
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