O fracasso em fracassar

Outro dia eu li sobre um cara que tinha fracassado em fracassar. Ele tinha sido um promissor artista londrino, mas que se envolveu com drogas, angústias, confusões e concessões, a ponto de colocar a perder tudo o que um dia ele tinha almejado ser e ter. Tinha feito de tudo para acabar com sua própria carreira, pôs tudo a perder, caminhava para ser um fracasso, a perfeita imagem de um promissor que fracassou, em suma, sua vida desenhava a trajetória de um fracassado.
Mas, havia algo nele, ou por detrás dele, que o impulsionava sempre a lugares mais altos, a pessoas dispostas a comprar e admirar sua arte. Por mais que o artista em questão fizesse de tudo para não ser o que esperavam que fosse, seu intento de fracassar fracassou. E isso me chamou demais a atenção.
Fracassou em fracassar. Como assim?
Acredito que vá se dar algo semelhante comigo. E também acredito que isso não é privilégio meu, mas um roteiro bastante comum no mundo. Pode até parecer que não é, mas é.
Vou tentar explicar (a mim mesmo).
Acontece assim: eu tinha um sonho, um intento, uma causa, uma grande vontade, um desejo, uma necessidade, enfim, eu almejava alcançar um lugar, um espaço, uma vida, uma profissão, um emprego, em suma, um ministério. E trabalhei com intensidade, por um longo tempo na busca por conquistar, fazer, realizar, conseguir, galgar, assumir, ganhar ou atingir esta meta.
Como muitos, eu também comecei jovem, deveras moço (;)). Descobri, pesquisei, entrei, lutei, trilhei, percorri e vivi o caminho necessário para ser (ter) aquilo que tanto meu coração anelava. A conquista foi um tanto quanto dolorosa, mas sobremodo gloriosa, bem recebida, festejada e saboreada. Mas, eu ainda era novo, bem novo.
Com alguns acontece de se ganhar muito dinheiro, fama, prestigio ou status, o que acaba por engendrar uma vida desregrada, marcada pelo abuso de mulheres, drogas, bebidas e festas. Levando a uma realidade de fracasso, haja vista o resultado do sucesso repentino. Da glória, cai-se no anonimato. Das festas, resta a solidão. Da euforia sobra o luto, do dinheiro apenas o gosto amargo da miséria.
Mas, por mais que o “sujeito” tenha acabado precocemente com sua promissora carreira, ele ainda tem um dom invejável, um talento notável, uma habilidade genial, uma inteligência acima da média, e um cuidado divino suspeito.
Sua queda frenética abismal auto-destrutiva, que tinha o fracasso como destino certo, reverte-se em uma nova chance, ou melhor, uma alteração significativa na linha oscilante da vida adulta do sujeito.
Com outros, não vem dinheiro, ou outros artefatos comuns à gêneses da fama, mas recai satisfação, sentimento de dever cumprido, e trabalho, muito trabalho, e também uma dose cavalar de conhecimento, não necessariamente sabedoria, mas conhecimento, do tipo de se viver entrelinhas, meandros, porões, bastidores do vida agora conquistada. Como resultado, tal qual o meu caso, o fracasso é marcado pelo stress, debilidade, crítica e, principalmente, a descrença.
Não nos falta dinheiro, fama ou mulheres, não havia tempo no trabalho para desfrutar disso, e também não eram essas as benesses do nosso tipo de empreendimento. O pós queda, porém, é igual em ambos os casos, a saber: “queda frenética abismal auto-destrutiva, que tinha o fracasso como destino certo, reverte-se em uma nova chance, ou melhor, uma alteração significativa na linha oscilante da vida adulta do sujeito”.
Como entender isso?
Imagine um gráfico, nele o marco zero é sua idade zero, e o ponto final é o dia de hoje. Pense em quando você começou a sonhar em ser o que você queria ser. Talvez a primeira marca pós este momento seja de queda, mas a continuidade deve ser marcada por um significativo crescimento na linha que marca seu ciclo de vida. O ponto alto, no meu caso, foi o alcançar da meta, uma queda acintosa logo em seguida, uma subida repentina, e novamente outra queda, o símbolo-mor do fracasso.
Eu pensei na minha vida. Talvez você tenha feito o exercício de imaginar a sua linha de vida.
Eu não quero continuar como os indicadores de riqueza de Serra Leoa, quero que o meu gráfico seja como os marcadores mercadológicos da Nasdaq com um explosivo aumento no consumo tecnológico.
Por isso, quero que a minha biografia seja marcada também por essa frase: “Ele fracassou em fracassar”, ou, como dizia o grande Churchill: “O sucesso é a habilidade de ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”.
Ao menos eu conto com o apoio de Deus nessa empreitada (não é mesmo Deus?)

Espero que sim...(por isso: “sometimes we just need change...”)