“Todos os grupos culturalmente definidos concordam, buscam e reconhecem submissão do invisível sobre a natureza humana”, Marcell Mauss
Esta frase é um postulado da fenomenologia da religião, que basicamente é aquilo que Warnier definiu assim: “é preciso situar o fenômeno religioso em si mesmo consistindo em primeiro lugar em crenças (...) o que é antes de tudo o fato de postular a existência de um meio ambiente invisível” ; tudo isso feito sistematizadamente (neo?), se propondo a estudar, compreender e categorizar o invisível.
O camelódromo da fé, cientificamente falando, vem a ser a práxis comum à maioria da população evangélica (brasileira – por enquanto), onde a busca é por oferecer aquilo que se precisa interior e/ou espiritualmente, a um custo acessível, de forma materializada, numa linguagem popular, muitas vezes pitoresca, sem nenhum tipo de garantia formal e/ou legal, em encontros comerciais rápidos, negociações populares (de escambo com certa freqüência), de forma que não se estabeleça um relacionamento de responsabilidade por parte do ofertante (o clero pregador), tampouco uma postura de cobrança futura do necessitado (o crente ignorante).
Acho que vou cunhar e registrar essa definição. O termo titular eu ouvi num culto. A definição é “meu garoto”.
Explicando melhor, e tentando ser mais sucinto (já que os dois últimos post´s escrevi sem pensar em parar).
A lógica de funcionamento é o seguinte: vivemos num país miscigenado, culturalmente ecumênico, logo nossa prática de culto segue padrões muito peculiares, e nossa crença parâmetros bem ímpares (todavia, isso é mais comum do que se crê). E o pensamento encontra lugar-comum mais ou menos da seguinte forma:
Eu, um evangélico, ou melhor, um brasileiro (a) piedoso (a) sem muita cultura religiosa, começo a freqüentar, geralmente por necessidade, determinada igreja. Logo me vejo fazendo parte de um novo grupo social, onde sou apenas mais um “membro”. As preces feitas naquele lugar seguem um padrão comum à maioria das igrejas. O que me deixa com a impressão de que faço parte de uma família muito abrangente.
Meu líder na igreja é um bem sucedido executivo religioso, carismático e comunicativo, com o qual eu desenvolvi um gostoso sentimento de empatia gratuita. Porém, dele eu não conheço mais do que as informações do seu currículo. Mas, ele até que prega bem, diz palavras agradáveis que acariciam meu coração. Por isso eu continuo indo até aquela igreja.
Porém, gosto de ir atrás de mais benção, por isso, sempre que posso, procuro conhecer outras igrejas, principalmente se ali existe algum profeta, afinal: quem não gosta de saber um pouco mais sobre seu futuro?
Descubro que tenho condições de ser mais rico do que sou, uma vez que a bíblia me promete isso, preciso apenas determinar e tomar posse da minha benção. Logo, vou onde tenho mais chance de que isso aconteça. E muitas igrejas oferecem esta possibilidade de graça, não preciso pagar nada, apenas ofertar de acordo com minhas condições. Nem que para isso eu precise me sacrificar um pouco.
Então, eu descobri algumas igrejas onde vou quando preciso ouvir uma palavra mais forte, outra que vou quando preciso ouvir uma profecia que me acalente o coração, e ainda outra que freqüento sempre que quero ouvir uma boa música. É bem verdade que meu pastor, sempre que pode, me oferece tudo aquilo que preciso. Ele agora esta fazendo uma pós-graduação em divindade, cada vez que volta para nossa igreja ele esta mais sábio. Além de profeta, ela agora também é um intelectual.
Na minha igreja também temos uma boa equipe de louvor, um grupo de oração e um pastor auxiliar que é do fogo, vive revelando para a igreja toda. Outro dia, um homem que tinha câncer foi curado com uma oração poderosa. Diante disso, eu não penso em sair da igreja. Lá eu tenho tudo o que preciso.
Mas, e quando lhe sobrevier a tempestade?
O grande perigo desse tipo de conversão ao cristianismo é a tormenta tão comum à vida cristã. A igreja moderna não está preparada para ensinar o Cristo que acalma a tempestade, tampouco sobre o servo sofredor que desejou a morte às vésperas da crucificação. Este sim é suficientemente capaz de nos auxiliar em quaisquer instâncias.
Não sou contra a formação acadêmica ministerial, sou contra o uso curricular destas titulações. O que precisa valer na integridade pastoral é sua conduta, sua mensagem genuinamente cristã e sua credibilidade junto à sociedade, e não sua graduação ou títulos.
Freqüentemente vemos que pastores-executivos estão cada vez mais distantes de seus rebanhos. E estes mal conhecem seus líderes, que por sua vez, pouco se esforçam na tarefa de cuidar e servir, mais vale ser servido, isso engendra mais status.
No camelódromo da fé não há espaço para axiomas do Cristo, não há lugar para gente que quer comida com sustância, não são bem vindos aqueles que questionam as estruturas corrompidas, tampouco se pode ver genuína adoração em todo o tempo. Quiçá tenhamos condições e tempo para arrependimento e confissão de nossos pecados.
Queira Deus, e ajamos nós, para que venham abaixo os “shoppings populares de comércio da fé”, para que em seu lugar sejam erguidos, não suntuosos shoppings em moldes internacionais, tampouco hospitais perenes de socorro diuturno, mas anfiteatros na terra daquilo que nos foi prometido no céu.
Que a igreja, além de curar e adorar, testemunhe aquilo que realmente importa, a saber: a fé sincera e plena no Cristo, o Filho de Deus.
Soli Deo Gloria
Comentários
Mas os pregadores dessa nova menssagem de transformação social, que enche de esperança o coração dos que têm ambições insaciáveis, que não basta ter sua casa ou apartamento, mas dezenas de imóveis para alugar e explorar o próximo, contando isso na TV como dádiva dos céus, um maná que Deus manda só pra ele que frequenta determinada denominação. Não bastasse isso, contam com a maior cara-de-aroeira ou de quebracho que em cada cômodo da casa tem uma tela de LCD, inclusive nos banheiros, computador, celulares, carros importados - um pra cada dia do mês, enfim, Deus se preocupa com alguns privilegiados, provando que Sua morte na cruz não objetiva a humanidade, mas alguns gatos pingados. Se não é, é o que parece afirmar esse neo-evangelho. Essa discussão é pertinente, mas infelizmente, os que comandam a massa querem mesmo que essa massa se dane, importando apenas que deixem os dízimos (alguns até de 20%) como afirma o artigo que citei anteriormente, além de ofertas gordas para que os Pastores, bispos, apóstolos, os candidatos a deusinhos de suas comunidades possam curtir férias em NY, Orlando; ter haras de cavalos árabes e também levar grana escondida na capa da Bíblia a quem publicamente reverenciam como Pa;avra de Deus para os outros, jamais para eles.
Perdoe se me alonguei, porém, teria muito mais a desabafar, entretanto, fica pra próxima. Un abrazo y hasta la vista.
Mas os pregadores dessa nova menssagem de transformação social, que enche de esperança o coração dos que têm ambições insaciáveis, que não basta ter sua casa ou apartamento, mas dezenas de imóveis para alugar e explorar o próximo, contando isso na TV como dádiva dos céus, um maná que Deus manda só pra ele que frequenta determinada denominação. Não bastasse isso, contam com a maior cara-de-aroeira ou de quebracho que em cada cômodo da casa tem uma tela de LCD, inclusive nos banheiros, computador, celulares, carros importados - um pra cada dia do mês, enfim, Deus se preocupa com alguns privilegiados, provando que Sua morte na cruz não objetiva a humanidade, mas alguns gatos pingados. Se não é, é o que parece afirmar esse neo-evangelho. Essa discussão é pertinente, mas infelizmente, os que comandam a massa querem mesmo que essa massa se dane, importando apenas que deixem os dízimos (alguns até de 20%) como afirma o artigo que citei anteriormente, além de ofertas gordas para que os Pastores, bispos, apóstolos, os candidatos a deusinhos de suas comunidades possam curtir férias em NY, Orlando; ter haras de cavalos árabes e também levar grana escondida na capa da Bíblia a quem publicamente reverenciam como Pa;avra de Deus para os outros, jamais para eles.
Perdoe se me alonguei, porém, teria muito mais a desabafar, entretanto, fica pra próxima. Un abrazo y hasta la vista.