Outro dia eu, conversando com um amigo sobre nossas andanças pelas ruas da cidade, começamos a comentar sobre uma duvidosa prática muito comum hoje em dia, a adesivagem de carros.
Sem falar nos pára-choques de caminhão e suas famosas frases repetidas milhares de vezes por tanta gente, nós falamos sobre a prática dos crentes de colocar no carro adesivos como: “Propriedade Exclusiva de Jesus”, “À Serviço do Rei Jesus”, “100% Cristão”, e o mais comum: “Deus é Fiel”. E é sobre esse último que quero falar.
Conhecendo em profundidade o universo cristão evangélico, ouso afirmar que a maioria desses cristãos que adesivam seus veículos com esse tipo de “dizeres”, o fazem em estrita gratidão material, logo após terem recebido este ou outro bem como prova de sua fé em Deus. Eu agi assim.
O ser humano é vaidoso e carente. Carente de atenção, de cuidados, de mimos e de presentes. Quando eu coloquei o “peixinho” no meu carro, como símbolo da minha crença num Deus que havia me ajudado a trocar de carro, eu fiz aquilo com a maior boa intenção. Nosso erro, dos evangélicos, é apenas agir assim quando recebemos algo em troca.
Apesar de ainda carregar o “ichtus” no meu carro. Estou num processo de troca de crença. Deixando de crer apenas num Deus benévolo para crer num Deus de graça e misericórdia.
Eu cria mais fortemente nesse Deus benévolo (que dá voluntariamente, ser receber qualquer espécie de remuneração para isso), quando era um ser que me enquadrava perfeitamente nos moldes evangélicos do sistema. Tinha o nome no rol de membros de uma igreja, contribuía fiel e mensalmente com o dizimo para a “igreja”, sem nem me importar com o que ela viria a fazer com ele, comparecia aos cultos semanalmente, não me relacionava abertamente com os que apregoavam uma fé diferente da minha, rechaçava publicamente aqueles que zombavam dos crentes, enfim, era um perfeito membro de igreja.
Hoje, um tanto quanto mais afastado desse sistema deturpado de fé cristã, eu deixei, por necessidade é verdade, de crer apenas nesse Deus que me dá, para crer no Deus que me aceita, independente de me dar ou não, de eu merecer ou não, de ter ou não bens. A vida me forçou a deixar de esperar bens de Deus, para esperar graça de misericórdia.
Eu podia ir as forras com essa crença de fazer merecer algo de Deus, tanta gente vence e ganha com essa idéia de merecimento cristão, ou ainda, de pagamento ao sacerdote pela bênção do divino. De dentro dessas igrejas grassam adesivos de “Deus é Fiel”, isso porque Ele dá bênçãos materiais, porque se desse tormenta e angustia claramente, os dizeres seriam outros “Vida Loka”, “100% Sertanejo/Pagode/Funk”, “Carpe Dien”, e etc.
Por mais triste que pareça ser, nem sempre aceitamos de bom grado as agruras que Deus permite que nos sejam impostas. Ao invés de carro, doença; ao invés de emprego, carro batido; ao invés de promoção; desemprego. E ai a crença no Deus benévolo se transforma em ira de seres infantis e birrentos.
Um Deus gracioso e misericordioso é encontrado quando nos deparamos com um total estado de isolamento, dor e desesperança. Nada que possamos ganhar ou ter, parece satisfazer aquele desejo profundo de algo maior. Dessa vez nem um carro ou um par perfeito, são capazes de aliviar a tormenta interior que nos aflige.
Eu ainda olho para o meu carro com o “peixinho” de gratidão estampado no porta-malas, mas o adesivo que hoje carrego está preso em mim, estampado no meu rosto, nesse de incapacidade, insuficiência, duvida e temor, e nele você pode ler: “Eu espero pelo Servo Sofredor, tão somente pela sua graça e por sua misericórdia”
Em Cristo, que me garante
Soli Deo Gloria
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