Eu morri...

Engraçado como algumas coisas acontecem na vida da gente e nem nos damos conta. Outro dia comemorei sem saber talvez o aniversário da coisa mais importante na minha vida até hoje, minha ordenação. E isso passou completamente despercebido. Algo tão importante, e completamente ignorado. Por quê?
A resposta mais provável é que não tive muito o que comemorar. (estou rindo agora). Como assim não tive o que comemorar? É parece que não.
O primeiro aniversário foi marcado pela melancolia, saudosismo, amargura e lágrimas. É, eu chorei. Chorei de tristeza pelas agruras enfrentadas. Chorei pela demissão da igreja. Chorei por ter descoberto que igreja é um campo minado que faz inúmeras vítimas. Chorei por não estar feliz trabalhando na convenção. Chorei porque não vivia o evangelho que pregava. Chorei porque não podia pregar na igreja o evangelho que eu cria. Chorei porque meu ministério era minha profissão e não minha vida. Enfim, chorei por estar morrendo. Chorei de angústia, no leito atemporal e subjetivo em que me deitei para morrer espiritualmente.
Eu morri.
Mas estou ressuscitando.
E talvez por isso não comemorei o segundo ano ministerial. Moribundos não celebram nada que não seja a vida, e esta com saúde. Não era hora de festa de aniversário.
Eu estava como, e talvez ainda esteja, como Lázaro, saindo da sepultura rumo à vida novamente. O que é um ministério quando procuro desesperadamente pelo ar? Quando tudo o que quero é voltar a respirar?
Quando morri, foi a vida espiritual que perdi. Eu estava como o filho pródigo, sem esperança e mendigando para sobreviver. Eu me satisfazia com migalhas espirituais. Por que então comemorar?
O fim do primeiro e inicio do segundo ano transcorreu sem surpresas. É. É verdade. Minha carta de demissão da convenção (e quase que praticamente do próprio pastorado) estava pronta desde antes de completar um ano de ordenado. O que vi dentro da igreja foi estarrecedor, não pelo bem, mas pelo lado “negro da força”.
Dia 29/12/2008 ficará marcado como um dia esquecido, e também ‘esquecível’ da minha vida. Não havia o que comemorar. Havia apenas motivos para lutar. Lutar pela esperança.
Esperança de um dia voltar a viver de pregar. Mas não de pregar uma cartilha pré-estabelecida, e sermões tão somente agradáveis ao paladar dos evangélicos. Mas viver de pregar a verdade. Viver de pregar o evangelho. Viver de pregar como meus mentores pregam. Gente que sem saber muda minha vida; são usados por Deus como o Rei Ciro, meros servos-instrumentos na mão do grande Deus.
Esperança de ser algo que nunca fui, de ser um pregador do evangelho da graça de Deus, e tão somente dessa graça remidora.
Esperança de ter e viver com satisfação, não apenas lutando para sobreviver a mais um dia de labuta diária, sem prazer e sem felicidade em fazer aquilo que em nada me satisfaz.
Enfim, eu só queria dizer que meu segundo ano ministerial, minhas bodas de algodão, passaram, virou história, que me ensinou, mas que precisa ser esquecida, afinal dela não tenho prazer, e nela não me regozijo.
Por tudo o mais, quero apenas me satisfazer de pregar, e de viver pregando (queira Deus que seja numa igreja) o evangelho da graça do filho de Deus, Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Soli Deo Gloria

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