Marcha por quem mesmo???...

Assistindo o "profissão repórter" do último dia 28/06, cheguei a essa conclusão: “ Que vergonha essa marcha pra Jesus...que ridícula essa parada gay...a gente precisa é fazer a marcha pela vida, e a parada pela terra!”

Algumas vezes eu sinto vergonha de ser considerado evangélico, por mais que histórica e doutrinariamente não o seja (falo mais sobre nesse aqui: http://crentepensando.blogspot.com/2007/12/eu-no-sou-evanglico.html ); o problema é o que os evangélicos dizem não coaduna com o que eles fazem. São práticas completamente diferentes do discurso (que já é bastante questionável muitas vezes).

Quer um exemplo?

“Nós amamos os homossexuais, somos contra o homossexualismo”. Aqui residem alguns equívocos.

Primeiro o termo mais coerente seria homossexualidade, já que o “ismo” remete à origem enferma da pratica, ou seja, é preciso dissociá-lo de doença e remetê-lo e/ou trazê-lo para o campo da diversidade, o que, ao meu ver, consequemente nos ajuda a, pelo menos, diminuir o preconceito.

Segundo, não se separa o pecado do pecador, só Deus faz isso...por isso, a homossexualidade acompanha o gay, por isso a bebida acompanha o alcoólatra, por isso o cigarro acompanha o fumante, a mentira o mitômano, e assim vai...Ou seja, é uma grande mentira quando dizemos que amamos o pecador mas não o pecado se não aceitamos o pecador com seu pecado, seja ele qual for.

É mentira porque julgamos e o afastamos enquanto ele não se cura!

Arrego, onde mais o pecador pode se curar se não em contato com a graça do filho de Deus?!? E o que deveria ser a igreja se não a propagadora dessa graça?!?

Eu que vivo dentro da igreja, vivo de pregar o evangelho também vivo pecando. O que dizer de quem nem contato com a graça possui?

Eu não sou contra nada. Como já falei, não cabe a mim legislar o país ou alterar constituição, eu prego o evangelho do amor e do perdão. Por isso me sinto tão ofendido quando vejo marchas para Jesus que não passam de ajuntamento político, reuniões de cunho político, de interesses políticos, criadas por políticos, dirigidas por políticos e apenas de conseqüências políticas. NÃO HÁ PREGAÇÃO DO EVANGELHO EM MARCHAS. Primeiro porque só evangélicos participam, segundo porque apenas se demonstra doutrinas e força POLÍTICA.

O mesmo é verdade nos outros movimentos. A parada gay é um despropósito total, não é chocando a sociedade que se vai conseguir aceitação. Não é se vestindo de pluma e paetês que se vai adquirir respeito pela orientação sexual, muito, mas muito pelo contrário. A grande maioria da sociedade brasileira ainda é machista e retrograda, de maneira que manifestações que a coloquem em choque social acabam por gerar antipatia.

Todavia, eu não sou um antropólogo, ou sociólogo, cientista social ou quiçá assistente social, eu sou pastor, e batista, e por isso escrevo sobre a minha realidade.

Então, voltando à igreja! Marcha para Jesus só serve para angariar votos, pagar o cachê dos artistas “gospel”, mostrar força política, sujar as ruas onde os crentes passam, e ah, serve para juntar uns amigos e tomar tereré também.

Qual a função espiritual dessa parada toda?

Serve para pregar o evangelho? Não, pois isso não acontece, nunca aconteceu, e dificilmente acontecerá (eu já fui em algumas, falo por conhecer)

Serve para mostrar Cristo a uma sociedade carente de exemplo? Não, pois não nos amamos nem enquanto marchamos. É como um desfile militar, cada ala exibe sua força e poderio bélico, porém sem a união tão sonhada pela igreja (perseguida). Conseguimos a proeza de caminhar desunidos.

Serve para trazer paz a uma cidade carente da verdade? Não, pois na verdade o que está em jogo são nossos interesses. O que queremos é mostrar que temos gente e força para, enfim, articular nossa vontade e nossos projetos.

Serve para demonstrar o amor de Deus? Ahahahahah, claro que não, pois não há caridade na marcha. Não me lembro de ver privilegiado algum movimento social relevante durante ajuntamentos evangélicos (salvo raras exceções onde se arrecada alimentos não perecíveis).

Bem, o que eu quero dizer é que, mesmo considerado evangélico, eu demoro a me aceitar como parte de uma estrutura já perdida em si mesma; distante da grande comissão, mais preocupada com números do que com pessoas.

Nós não temos resposta para as grandes demandas da vida moderna.

Outro dia estive na periferia onde minha missão (isso mesmo, minha igreja nem igreja é ainda) está engajada em alguns trabalhos sociais; e andando pelas ruas de terra fui convidado a entrar numa casa com o seguinte quadro: “uma senhora de 90 anos que havia caído no banheiro e quebrado a bacia e clavícula, sem enxergar pois havia perdido os óculos, impossibilidade de andar direito por causa de uma erisipela que a tinha deixado com as pernas super inchadas. Cuidando de um deficiente mental de aproximadamente 40 anos, deficiente graças a uma meningite contraída ainda bebê, após ter sobrevivido a uma tentativa de assassinato, praticado pela mãe que, desesperada pela pobreza, havia posto fogo no filho. O menino sobreviveu, mas não sei se foi muito azar ou pouca sorte viver como ele vive”.

Ao menos hoje eles saíram da favela e do barraco, e moram numa pequena casa de alvenaria construída pela prefeitura. Mas, o que eu tenho a oferecer como igreja? Uma oração? Óculos? Uma cesta básica? Alguma coisa eu preciso fazer, sentar, orar, mostrar amor, apresentar o Cristo de alguma forma.

Fiquei um tempo nessa casa, saindo eu pensei: o que será do homem com problemas mentais, que não pode viver sozinho, e cuja mãe adotiva não suporta talvez mais 12 meses de vida? E o que fazer por aquela viúva? Que criou 14 filhos e mais um adotivo que ninguém queria? Não me culpem se gastei dinheiro da igreja com ela. Meu coração dizia que isso era o mínimo que podia fazer.

Ontem, indo a outro lugar da periferia onde também nos engajamos no trabalho em prol de pobres, passei perto da penitenciária de segurança máxima, primeiro fiquei feliz que asfaltam uma outra entrada no bairro e agora já não preciso passar em frente ao presídio para chegar na missão onde acontece o trabalho, mais os homens que moram naqueles pavilhões? Quando saem são recuperados são vitimas de um preconceito tão absurdo que a vida acaba por se tornar a única saída honrosa.

Eu sei que erro, sei onde falho, mas esse mês estou orando por 95 cestas básicas (total de famílias atendidas pelos trabalhos que Deus nos mandou participar), e graças ao pai o alimento é apenas uma pequena parte destas ações sociais.

Ontem eu chorei pregando para um grupo de mulheres marcadas pela pobreza e pelo crime, apresentando um Jesus que curou uma imunda palestina há 2000 anos (Mc 5). Aquilo foi a minha marcha pela vida!

Enquanto a gente se preocupa em demonstrar força política o mundo caminha para a destruição, as famílias para a perdição e nós, igreja evangélica, seguimos nosso caminho pregando inferno e condenação, sem olhar para o lado e sem enxergar que o inferno (também) é aqui e que a condenação somos nós que, hipocritamente, decretamos!

Minha vontade é apresentar para a igreja evangélica brasileira a música do Lenine, Zeca, Moska e Chico: "Todos somos filhos de Deus, só não falamos as mesmas línguas".

(preciso sair...depois termino essa ideia noutro post :-) )


Ao Cristo que nos torna todos irmãos seja a glória e a honra!

Comentários

Deine Suruagy disse…
Ludyney,

Mesmo em meio a muitas atividades, não consegui deixar de ler este post até o final. Confesso que era uma defensora das “Marchas pra Jesus”. Defendia porque achava uma forma de manifestação da “força dos crentes” e (confesso) muito divertidas.

Já conversei com o Rodrigo exatamente sobre este tema. Apesar de me dizer que respeitava a minha opinião, ele expôs que era contrário a essa manifestação. Ficou assim.

Lendo seu texto, percebi algumas verdades. Entre elas, está a que reproduzo em seu parágrafo, abaixo:

“Enquanto a gente se preocupa em demonstrar força política o mundo caminha para a destruição, as famílias para a perdição e nós, igreja evangélica, seguimos nosso caminho pregando inferno e condenação, sem olhar para o lado e sem enxergar que o inferno (também) é aqui e que a condenação somos nós que, hipocritamente, decretamos!”

Por vezes, me pego indignada com a hipocrisia de muitos, mas não encontro palavras para expressar esses pensamentos e simplesmente acabo por abafá-los. Continuarei lendo seus textos, quem sabe compartilhando de indignações.

Grande abraço!