Eu não sou Evangélico...

"Eu não sou evangélico!". Isso soa um pouco agressivo, rebelde e/ou subversivo (e talvez seja até mais do que isso), mas eu descobri que não posso ser chamado de evangélico, não faço parte do mesmo bojo em que são colocados os seguidores da IURD, Renascer, Assembléia de Deus, Congregação Cristã do Brasil, dentre outras igrejas pentecostais e neo-pentecostais, filhas da reforma.
Como eu já escrevi em outro artigo, fiquei imensamente feliz e regozijoso em descobrir que não sou filho da Igreja Católica ou filho da reforma, como denominação batista minha origem histórica remonta a um período de trevas milenar. É fato que descendemos de movimentos dissidentes, perseguidos por quem Reformou e quem Contra-Reformou.
Alguns historiadores chegam a dizer que somos descendentes dos socinianos (que hoje deram a origem aos unitarianos e aos TJ´s); outros ensinam que os anabatistas (nossos reais precursores) são fruto dos nestorianos, que apesar de “semi-gnósticos”, combateram no inicio da igreja a heresia nojenta de que Maria é mãe do Logos divino (Theotocos); alguns apaixonados dizem que o movimento anabatista, chamada inicialmente de “Seita de Heréticos”, foi oficialmente “descoberta e denominada assim” em 235 d.C, pelo bispo romano Estevão.
Mas, o movimento anabatista do séc XVI é uma continuação dos movimentos anabatistas que atravessaram toda a Idade Média. E podemos ver a perseguição a este grupo desde o séc IV até seus descendentes mais modernos (Batistas e Menonitas) no séc XVI. Pelos séculos temos nomes que marcaram nossa história maléfica ou beneficamente, dentre eles estão Nestor, Montano, Tertuliano, Novácio, Donato, Thomas Muentzer, Menno Simons, Felix Mans, John Bunyan, Willian Carey, dentre outros.
Os historiadores Earle E. Cairns e A.G. Dickens, ao escreverem basicamente sobre a história de igreja, não podem negar o fato de que nós batistas não somos filhos legítimos da reforma protestante; movimento puritanos e pietistas, alguns realmente hereges e semi-gnósticos, são nossa real mãe.
O termo “evangélico” designa acima de tudo os movimentos religiosos oriundos da reforma protestante do séc XVI, bem como seus desdobramentos eclesiásticos. E hoje é basicamente usado para ser referir aos membros das denominações surgidas da reforma, que pregam uma volta ao Cristo dos sinópticos; fiéis filiados a determinados segmentos religiosos da sociedade.
Por ser batista por convicção doutrinária e histórica, tenho certeza de que “ser batista” não salva ninguém, tampouco “ser evangélico, protestante ou católico” salva alguém. O que salva é Jesus. Mas muito me alegra saber que faço parte de uma “igreja” (nem sei se posso chama-la assim) que lutou contra a institucionalização constantiniana /romana, que buscou purificação e pietismo no malfadado catolicismo oficioso, e que apontou as falhas de reforma pseuda-cristã de cunho político/religioso. Pois, como diz Caio Fábio, o herói da Reforma era um cara com um ser antagônico, que não pretendia reformar a igreja oficial, "e nem conseguia santificar seu próprio pinto".
Glorias a Deus pois não sou evangélico. Penso eu que evangélicos evangelicalizam e Católicos catequizam. Não transmitem fielmente apenas as “Boas Novas” de Jesus (de onde realmente deriva a expressão evangélicos), mas transmitem um sistema doutrinário com base numa teologia dogmática, ou então em uma teologia pós-reformada pentecostal ou neo-pentecostal.
Ricardo Gondim ao escrever na revista Ultimato (um caso raro e excelente de um periódico religioso e imparcial), disse que não rebateu o que o Papa Bento XVI disse sobre ser a igreja católica a única a reunir todos os requisitos da comunidade fundada originalmente por Cristo e seus apóstolos, e que catolicismo é o único meio pelo qual se pode alcançar a salvação espiritual com a ajuda da fé em Jesus Cristo, e não atendeu aos evangélicos que pediram uma resposta, pois estes requisitaram uma resposta paradoxal, no sentido de serem suas denominações evangélicas as verdadeiras igrejas de Cristo e detentoras da Salvação Cristã; e por ele não concordar com nenhuma das afirmações se manteve calado. Bom exemplo de sabedoria hodierna.
O Catolicismo se emaranhou nas teias do Estado, e nas amarras do legalismo religioso ritualístico. Sua principal característica teológica é a Mariolatria, uma interposição religiosa da criatura frente ao Criador. Ontem assiste o filme “Eu, Robô”, e no filme os robôs quase promovem uma revolução robótica, onde dominariam sobre os humanos, apenas quase, mas o criador sempre suplanta a criatura. Como acreditar que Maria, um exemplo de fé e virtude, tem poderes de interceder por alguém junto a Deus seu Filho? Como aceitar o fato de que uma simples mulher criada é mãe do Eterno? O Catolicismo conseguiu vender uma imagem milenar de engodo e mentira.
Maria é apenas a mulher usada para trazer ao mundo o Messias judeu, o Deus encarnado, mas não é a mãe de Deus, sua própria gestação é fruto da intervenção direta do Espírito de Deus, sem qualquer ingerência dela. Bem como na vida de Cristo e da igreja, uma importante ajudadora e, repito, exemplo, mas sem participação na vida, morte e ressurreição de seu filho. E o homem engole essa historia, haja visto que a mulher, como escreve Rubem Alves, é sempre o arquétipo do amor e do cuidado.
Já os Evangélicos se prenderam nas infindáveis disputas religiosas, nos embates corporais satânicos, e num dogmatismo doutrinário asqueroso. Me recuso a ser colocado no mesmo bojo da IURD, que prospera com suas neo-indulgências e venda de bênçãos, uma igreja onde o pai dos “encostos” tem tanto importância quanto o Pai Eterno de Jesus. Ou os pentecostais que se agridem internamente chamando de “batistas” os que, às vistas do povo, são menos espirituais. Crentes que matam seus desejos e anseios, em nome de um Cristo legalista e de papel. Pessoas que afogam o eu, para viver uma capa de santidade apodrecida pela mentira de um ser que parece o que não é.
Como batistas estamos esquecendo nosso princípio laico, e nos entregando ao atraente poder estatal. Deixemos os mortos cuidarem dos seus. Os pentecostais tripudiam apelidando de “batistas” os que não foram alcançados pela mentirosa 2ª benção, para os católicos somos rebeldes incorrigíveis, para os protestantes não temos tradição, e para mim somos falhos e exacerbadamente democráticos, mas guardamos a tradição do “não ser”: não somos presos a religião, não temos preso o rabo, não somos presos a homens (mesmo que alguns maçons tenham vividos com pompa ditatorial em nosso meio, sempre o próprio kronos os derrubou), mas nossa história nos remete a Cristo, ao saudoso 3 ‘J’, e a pessoas que não procuraram glória humana, mas que semearam justiça e verdade com seu próprio sangue.
Bem, pelo menos eu sou um batista que se reconheceu apenas como um “discípulo”, e como tal erra e aprende, e confesso que tenho errado mais do que aprendido. Quero deixar de lado nomenclaturas, sistemas eclesiásticos, liturgias humanas, dogmas confusos, e viver o axioma de Cristo, o amor a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a mim Mesmo. Quero crer como Karl Barth que estamos impedidos de tentar deduzi-la (a misericórdia - que é graça) de qualquer outra coisa ou de deduzir qualquer outra coisa dela. Mas, acima de tudo, é ordenado que a aceitemos e a reconheçamos, ainda seja totalmente inconcebível, exatamente como ela é, sem rodeios e sem mais questionamentos.
E que o Espírito da parte de Cristo me ajude diariamente a ser assim!

Soli Deo Gloria

Comentários

Anônimo disse…
Pr. Ludyney, graça e paz.
Hoje não estou mais na Batista da Convenção. Mas, será que não estar na instituição pode ser visto como não ser, ou não ter um entendimento batista?
Mesmo fora, me deixa apreensivo o seguinte texto/denúncia:
http://www.gilsonsantos.com.br/htm/post-118.htm
Um abraço fraterno.
Emerson.