A companheira que me enche de esperanças...

A gente ouve falar que a noite sempre vem acompanhada da melancolia. A maioria das pessoas se sentem mais sozinhas durante a noite, e isso talvez cause um sentimento triste, talvez de incomodo, desassossego ou desesperança. Alguns chegam a dizer que é porque a noite representa o mal, ou melhor, a ausência de luz e, consequentemente, é a realidade das trevas.

Eu não creio nisso, primeiro porque acredito que nada do que Deus criou é ruim por natureza, e isso inclui a noite. Deus não poderia ter feito um período inteiro do dia simplesmente para nos deixar entregues ao ocaso (isso mesmo ocaso), ou às trevas. É obvio que não. A noite é tão essencial para a vida humana quanto o dia. É nele que a vida renova suas forças, ou, em alguns casos, é durante a noite que se encontra a vida.

Não creio que noite é má porque nela eu me acho. Nela eu me esperanço. Nela eu crio expectativas de futuro que me fazem acreditar que o choro as vezes pode durar um dia todo, mas quando cai o sol a esperança inunda minha mente, e meu coração se aquieta à espera de um novo tempo de esperança, verdade, conquista e paz.

Foi durante as noites da minha vida que obtive minhas maiores conquistas. Foram nas noites que preguei meus melhores sermões, foram nelas em que vivi meus mais tórridos e românticos casos de amor. É a noite que produzo com mais veemência e vontade. Foi tentando dormir que nasceu o filho da minha terapia: meu livro de memórias.

É verdade que a noite também me viu chorar, assim como o dia, e a noite testemunhou minhas maiores desilusões. Foi nela que chorei quando perdi o rumo ao fim do meu primeiro ministério, foi nela em que me refugiei para tentar esquecer minhas grandes paixões (igreja, mulher e futebol – infelizmente nessa ordem). A noite viu que sou fraco e que choro, ela mais do que ninguém presenciou minha humanidade pecadora e dependente vir à tona dar as caras enquanto eu sofria ou enquanto celebrava.

É a noite que consigo ficar mais sozinho, mais especificamente no fim dela. O dia me enche de gente. A luz do sol é como uma seta que aponta para mim como saída ou solução para mais pessoas do que as vezes posso suportar. E quando penso que não vou conseguir...ai vem ela, eu a sinto chegando, como um trem que ao longe se ouve bem antes de se ver. A noite chega e com ela o alento da solidão e da tranqüilidade. Como bálsamos para o dia que se finda, e um dínamo para o que há de se iniciar.

Agora faltam 10 minutos para as duas da madrugada, eu produzo enquanto planejo. Se eu pudesse viveria mais no escuro. Seria visto por menos gente. Produziria mais. Planejaria mais. Amaria mais. Viveria mais a boemia que a noite reserva em toda sua essência. Se eu pudesse pregaria uma noite toda, cantaria e pregaria até os 15 minutos anteriores ao período do dia que marca a arrebentação do sol, que chega com seu poder avassalador queimando e marcando tudo o que toca com seu raio. Dando vida ao que antes se escondia da luz.

Aproveitando que meus olhos começam a pesar, eu agradeço a Deus pelo dia e pela noite, sem eles eu não seria completo. Sem esse paradoxo diário eu seria desconexo em mim mesmo, minha realidade ultima seria sempre a falta de esperança.

Ao criador do firmamento e dos luminares seja meu louvor!

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