Eu tive dó de Deus

Porque será que tive de dó de quem de mim teve dó primeiro??
Soa meio estranho isso não é mesmo?? Ter dó de Deus...
Mas, um bocadinho só que já te explico... antes, vou adiantar que depois deste vem o “eu tive dó de mim”.
Vamos lá.
Outro dia eu estive numa igreja evangélica. Sabe como é, eu estava aqui em casa, cansado do Fantástico, empolgado com a vitória do meu time, meu ser desejoso de algo mais, enfim, eu estava praticamente um cidadão comum que precisa ir a alguma igreja. E como isso já estava decidido por mim há algum tempo, la fui eu.
Entrei numa igreja evangélica, das minhas, um pouco mais comedida, dessas que se avisa o visitante que dízimo é momento do culto para os membros, mas que também não fecha as portas para um coração caridoso. Enfim, era um culto normal, sem muita pompa, músicas já conhecidas da maioria, uma cantora com uma participação especial bastante emocionada, num belo duo piano/voz. Tudo parecia se encaminhar para apenas mais um culto, mas eis que surge o terrível portador das más novas, e então a coerção há muito não vista se materializa no lugar.
Dentre tantas barbaridades ele disse duas coisas sobre Deus que me doeram profundamente, primeiro porque vi o mísero poder, e o desgastante combate eterno travado entre ele, o Eterno, e o encardido, o imortal. As falas são estas:
“ – Deus só tem a igreja “ e “ – Só o crente pode salvar”.
Pensei: pobre e tolo Criador. Já criou sabendo que ia dar errado, já preparou sabendo que não íamos prestar, e ainda assim se despiu de toda a condição salvífica humana, para dar a sua criatura TODO O PODER DE CONCEDER VIDA ETERNA.
Eu podia ser sarcástico, ácido e até irônico. Seria mais ou menos assim: “A bíblia diz, meu amado, que tudo o que desligarmos na terra será desligado no céu, e o mesmo se fará com o que ligarmos na terra. Atente para o imenso, único, potentoso e avassalador poder que você tem. Não o desperdice vivendo uma vida vã e torpe. Não viva fora dos padrões da palavra de Deus. Procure a igreja evangélica mais próxima da sua casa. E, cuidado quando for desligar alguma coisa na terra, você pode causar um acidente no céu. Pense nisso”. Mas acho que assim eu estaria sendo um babaca.
Então vou mudar o tom, e voltar para um outro lado da argumentação.
Não posso crer que Deus só tem a igreja. Somos demasiadamente falhos e incertos na pregação do evangelho. O que Deus quis dizer com: “ EU SOU ADORADO EM TODOS OS PAÍSES DO MUNDO, E EM TODOS OS LUGARES QUEIMAM INCENSO EM MINHA HONRA E ME OFERECEM SACRIFÍCIOS PUROS. TODOS ME HONRAM” (Mal 1:11). É obvio o que Ele quis dizer. Não é só nosso, da igreja, o privilégio de pregação do evangelho.
E mesmo onde não há igreja há graça. Onde não há testemunho, há adoração. E isso sim merece um ‘GLÓRIA’. Adoro um Deus que é maior que tudo isso. Um Deus maior que o sistema. Um Deus que não depende do homem para ser adorado. Ele é, foi e será adorado. É próprio dele.
O Salmo 19:1-4 fala bem assim: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes em toda a extensão da terra, e as suas palavras, até ao fim do mundo”.
Ora, vamos deixar de ser ingênuos [eufemismo]. O sacerdócio de Melquizedeque prova e carregam em seu bojo muito mais que apenas mistério. O salmo da revelação natural denota muito mais que apenas soberania divina.
A manifestação, ou revelação, natural de Deus lhe rende adoração. E eu, simples mortal pecador, não posso garantir que isto é apenas glória dada ao nada sem proveito eterno algum.
Deus tem a si próprio, e também tem a igreja, como meio, modo, maneira e vitrine de si. É pretensão demais dizer que Deus só tem a igreja. Pretensão maior ainda é se ufanar de ser o DETENTOR DA SALVAÇÃO ENTRE OS HOMENS. Arrego. Eu não salvo ninguém. Quem Salva é quem cria. Só salva de algo quem pode dar mais do que aquilo que faço por merecer. Caso contrário, almas caridosas têm a mesma faculdade e mesmo poder de Deus.
Tudo bem que o pobre homem inculto que pregava talvez até quisesse argumentar sobre a responsabilidade de pregação do evangelho por parte de todo o salvo, mas não precisa criar sofismas teológicos para coagir. Isso é feio. É falho. É mentiroso. É pecado.
Com isso, acredito que ele queria se gabar de uma faculdade privilegiosa que não é dele, a saber: a pregação do evangelho da graça do filho de Deus. Logo, se ele a tem, a conhece, a vive, dela ele se apossa, transformando-a em seu meio de se auto-creditar importância e poder. Uma prática mais do que comum no meio religioso. Se o pregador em questão não queria isso, outros tantos querem.
Enfim, se ele estiver certo e não eu, pobre de mim que creio num Deus coitado. Um velho general que nunca descansa, que trava uma guerra dispondo de um exército não muito numeroso, com armas de baixo calibre, divergente em estratégias e dividido em infinitas doutrinas. Formado por oficiais que pisam em soldados feridos.
Pobre Deus. E pobre eu. Pelo menos Deus tem um trono de glória reservado pela eternidade. Já eu, só tenho esse exército, ou melhor, to sozinho, eu dei baixa há alguns meses...e aqui eu abro o idéia para o próximo texto...
A Ele minha vida...

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