"Fariseu, Go home!", pelo "outro"

A frase: “yankees, go home!”, ganhou fama mundial em virtude do pretenso e enxerido poderio norte-americano, que influía profundamente na soberania de outras nações( o tal imperialismo americano); anelando dominar, impor e subjugar quaisquer obstáculos às suas vontades e interesses.
Agora eu queria suscitar, ou granjear, esta frase: “Fariseu, vá descansar!”. Ela se aplica, ou melhor, serve para dar um recado aos tradicionais pastores que insistem em matar sua comunidade e a esperança da fé de sua igreja, em nome de um farisaísmo conservador, que em nada abençoa seus paroquianos.
Hoje eu ouvi, mais uma vez, uma conversa com o seguinte teor: “lá, existem muitos jovens querendo mudanças, desejando algo novo, mas os pastores são muito tradicionais, são batistas até morrer; de novo apenas a pintura da casa pastoral”; e ai, costumeiramente, parei pra pensar sobre isso, e logo me veio à mente a frase que os vietcongs adoravam dizer. Essa deve ser a frase que os crentes deviam plagiar.
Eu já fui um fariseu, assim como Saulo – ou um yankee querendo dominar o Kuiat-, mas eu cai do cavalo e descobri a importância do “outro” no decorrer da história. Não é apenas minha vontade, a do “outro” também deve prevalecer. Para tanto, deve, necessariamente, haver diálogo.
A troca e/ou discussão de idéias, opiniões, conceitos com vista à solução de problemas, ao entendimento ou à harmonia, precisa estar presente no cotidiano da igreja de Cristo na terra. Infelizmente não é isto que vimos em grande parte das igrejas evangélicas, e também na minha igreja Batista Brasileira (a tradicional). A vanguarda da ortodoxia e da originalidade (no sentido da primazia temporal), é preservada às custas daquilo que mais importa, a saber: vidas.
Para que eu mantenha em voga aquilo que os maçons escravocratas do século 19 trouxeram para o seu quintal, é preciso que haja irreparáveis perdas. Uma vez que eu, um tradicional e conservador pastor batista (aqueles à moda antiga) – que eufemisticamente gosto de chamar de fariseu -, prefiro e imponho minha liturgia praticada na época do “judeu errante”, uma forma de culto já retrograda quando a Casa Publicadora Batista descobria o mimeógrafo, se torna latente que não serei maioria, tampouco agradável ou simpático, isso significa que o “outro” que não concordar sairá morto ou descontente rumo a outros apriscos.
Mas: - “sou batista há 38 anos, filho de uma tradicional família batista, criei meus filhos na igreja batista, estudei no seminário do sul, e esta é minha forma de culto. CQC”. Tudo bem que a família desse fariseu é toda “arregaçada”, o filho mais velho esta no 3º casamento, a mulher vive com depressão, e a filha gosta tanto de igreja quanto um palmeirense gosta do Marcelinho Carioca. Todavia, hemos de preservar a liturgia, e manter a homilia que Taylor e Bagby trouxeram para as terras “além-mar”.
Essa hipotética ilustração (segundo os hermeneutas, a janela do sermão), não foi baseada em alguém que eu conheça, é apenas o resultado de uma pesquisa de amostragem que fiz. Uma pesquisa levada a termo no conhecimento que tenho dos bastidores da igreja evangélica brasileira. Afinal de contas, queira eu ou não, continuo sendo rotulado por essa alcunha: “Evangélico”.
Conquanto, a realidade em muitos lugares do Brasil é de definhamento da minha denominação. E olha que, como já disse anteriormente, creio sermos bem menos equivocados (eufemismo) que os assembleianos, os da seita IURD ou os adeptos dos vários auto-intitulados apóstolos. Mas, eu também nos conheço. E fazendo uso da recente olimpíada, crio a analogia do próximo parágrafo.
Ser batista não significa que somos um “dream time”, ou que estejamos tão à frente quanto o Usain Bolt. Acho que a prova mais apta a exemplificar a igreja evangélica brasileira é a natação, não as provas do Phelps, mas os 50m rasos, aquela que nos deu a raríssima medalha de ouro.
As igrejas são como os atletas, todos nivelados, muito parecidos fisicamente, com o mesmo preparo, basicamente com acesso à mesma tecnologia formadora de campeões. O que faz a diferença é vontade e a determinação nas braçadas finais. Todos competem no mesmo ritmo, é o final que os diferencia. Todos começam bem, largam bem de suas raias. Fazem um belo trabalho submerso, mas quando começam a aparecer, quando despontam acima da superfície aparecem os problemas. Ai surgem os vilões internos de cada competidor. No caso das igrejas, surge a concupiscência dos líderes, a arrogância, ganância, e o narcisismo tão comum em déspotas. É quando estão por cima da água que se decide o rumo derradeiro.
Mas a igreja da qual faço parte não premia os déspotas (talvez agora você se lembre daquele dito cujo, presidente de tudo na denominação, que ruiu junto com sua catedral batista, pois bem, eu o vi sendo vaiado por uma assembléia nacional recentemente), eles podem até manterem-se no poder, mas a lógica os derruba. Nós mantemos à frente de nossas igrejas outro tipo de criminoso. Vaiamos os Hitleres e preservamos os Mengeles.
À frente ficam os que matam a fé. Homens que não abrem mão da mediocridade em nome de um tradicionalismo que em nada se prova útil ou duradouro (agora escrevo com raiva). Gente que não se importa com o “outro”, vale apenas o que ele pensa ser certo. Se boné e cantor cristão não entram em concordância em seu cérebro de avestruz, então abaixo as cabeças com bonés, e vivas ao enfadonho HCC (eu queria mesmo era escrever patético).
“Eu não largo o osso”, o cara morre e mata a igreja, mas não abandona os tempos retrógrados. Alardeia ser um paladino da doutrina, e um arauto da fé e bons costumes, mas não ama, e nem de longe conhece o sentido de misericórdia e benevolência. Um perfeito fariseu, para que você entenda melhor, e eu me alivie mais, o cara exemplifica o babaca-mor.
Um fariseu é uma pessoa boa, honesta, direita e bem quista na sociedade. Era assim nos tempos em que nosso Deus habitou entre nós na forma de homem, e continua sendo assim até hoje. No fariseu você pode confiar, pode emprestar dinheiro para e dele, pode deixar os filhos dormirem com os dele que certamente ele cuidará, pode esperar que vez por outra ele comprará um cobertor e doará o velho numa campanha da fraternidade, pois, ora bolas, é o que sociedade espera dos fariseus. É assim que age o hipócrita.
Meu Deus, é sim um desabafo. Eu estou fora do ministério porque não consigo ser assim. Se fosse, provavelmente ainda receberia dízimos como salário.
Conheço tanta gente boa com a fé morta, assim como a minha morreu um dia, por causa dos fariseus que grassam dentro da minha igreja. Meus amigos não conseguem cultuar; irmãos eu perdi em virtude do julgamento de alguns que se enxergam Anás e Caifás, que crucificaram as idéias que se desengaiolaram das almas outrora encarceradas de crentes que hoje rejeitam qualquer semelhança com a práxis evangélica. Tal qual eu mesmo.
“Fariseu, vá descansar!”. Assim muitas vidas serão poupadas.
Pela misericórdia de Deus, eu e tantos outros ainda voltaremos para o meio da igreja (assim espero); com outras idéias, praticantes de outra liturgia, com o pensamento no “outro”, e principalmente o “outro” que não conhece o Messias, filho de Maria.
Se a igreja estivesse livre de vocês, talvez houvesse espaço para avivamento. Mas, como ocorre o contrário, nossa esperança é que a fé do fariseu seja posta em prova, uma perseguição talvez, e até que isso aconteça, a nós, que hoje estamos na margem da igreja evangélica brasileira (sei que represento boa parte dos batistas), só resta dizer: “Fariseu, largue o osso e vá descansar!”.
Soli Deo Gloria

Comentários

Caro Pastor Ludyney,

Acabo de receber o endereço do seu blog pelo meu grande amigo André, da Faculdade de Teologia. Li o seu texto e há muitas coisas preciosas nele, a começar pela capacidade crítica, pela sensibilidade.
É impressionante como suas palavras são claras e contundentes, e como falam ao meu coração, eu que também vivo uma inquietação diante da minha liderança e do que tem ocorrido com as igrejas em geral.
Sou assembleiano, mas, como você, questiono muitas coisas, e me considero um daqueles que representam muita gente que anda descontente. Ressalvadas as questões doutrinárias e da práxis pentecostal - muitas das coisas eu mesmo tenho dificuldade em aceitar - considero-me uma pessoa que poderia conviver bem na Assembléia de Deus, não fosse um modismo triunfalista que hoje tanto nos golpeia. Veja que, apesar de estarmos em contextos diferentes, nutrimos sentimentos parecidos em certo sentido. Precisamos desse apoio mútuo, numa esfera em que as racionalizações pouco ou nada pode resolver. Estou à sua disposição para conversarmos, trocarmos idéias. Meu telefone é 3331-9188 (casa), 8132-0282, e o blog é http://alexesteves.blogspot.com.
Um grande abraço!
Alex.
Boa e importante reflexão!

Alex Esteves.