Onde erramos?

Hoje eu entrei no carro e coloquei o CD do Gabriel O Pensador, que começa com a lendária música “2,3,4, 5,6 7,8 ta na hora de molhar o biscoito, eu to no osso mais eu não me canso, ta na hora de afogar o ganso”...que relata uma experiência de um solteirão a procura de um, digamos, “amor temporário”.
Ouvia eu tranquilamente tal canção quando escutei o seguinte comentário: “Isso não é musica para gente decente ouvir”, e eu me revoltei, primeiro porque a música não passa de uma ficção musicalizada por um poeta do cotidiano (o melhor deles eu diria), e segundo porque uma simples menção ao sexo fez irar um pudico ser, o que faria então um crime hediondo cometido por um pedófilo?
Nós vivemos num mundo onde nossa revolta por aquilo que se ouve deveria ser constante, sem trégua; deveríamos indignar com corrupção, violência, descaso, epidemias e mortes, mas o que nos choca é “ouvir musica do mundo”. Arrego!
Navegando no portal Terra de noticias, o site trazia a seguinte manchete: “Capa da 1ª 'Playboy' das Filipinas com brasileira gera polêmica”, e parte da matéria dizia o seguinte: “A poderosa Igreja Católica das Filipinas desaprova estas publicações, que em algumas ocasiões são denunciadas aos tribunais por mostrar conteúdo indecente”, se deu ouvidos a esta igreja “para não chocar os puritanos”.
Nas Filipinas as favelas dominam muitas cidades, e alguns chegam ao cúmulo de fixar moradia em aterros sanitários; no país onde por volta de 1970, o rancor e amargura dos muçulmanos resultou em uma revolta armada contra o governo e os usurpadores cristãos. A guerra civil acabou se espalhando por todos os territórios em que o islamismo era predominante. Conflitos e a tensões, que já custaram vida de mais de 100 mil pessoas, permanecem até os dias de hoje contribuindo para a instabilidade política e para a forte oposição ao Evangelho. Um acordo de paz foi assinado em abril de 1996, mas o nível de tensão entre muçulmanos e cristãos continua elevado.
Eu pergunto: Qual a relevância da capa da Playboy diante do perigo de uma conflito civil de razões religiosas? Será que um país que viu sua dívida externa saltar de $ 2 bilhões para $ 30 bilhões durante o governo ditatorial de um déspota, não tem nada mais sério para se preocupar ou rechaçar? Porque não repudiar publicamente a pobreza, a ditadura, a tortura, a tensão, o conflito e a guerra, e não apenas a “capa da playboy”? Ou será que um governo déspota, uma guerra civil, magelas sociais, pobreza generalizada, conflitos religiosos não são tão “iníquos” quanto a capa de uma revista masculina?
Não quero me ater às Filipinas, não sou profundo conhecedor dos paises asiáticos, pelo menos não de todos, e fora que meu próprio país me dá material de sobra para minhas críticas.
E minha igreja insiste em virar os olhos apenas para as futilezas: “Brinco na orelha? Meu Deus que feio pra você pastor!”; “Não acredito que você ouve música do mundo (qual música não é do mundo)?”; “Meu Deus, você tomou um gole de cerveja!?! Vai pro inferno!”; “Corte esse cabelo, você é crente!”; “Vamos excluí-la. Ela engravidou!”; “Não podemos batizar o irmão, você ainda fuma!”; “Ok, você vem da Assembléia de Deus, mas se quiser continuar na batista precisa se batizar de novo!”; “Meu povo assembleiano, vocês parecem batistas, ninguém ora mais!”; e por ai vai...uma infinidade de expressões que “expressam” nossa hipocrisia e pequenez de julgamento.
Pensemos alto. Olhemos para Cristo.
Olhem ao redor. Vejamos a carência do mundo. Outro dia escandalizei alguns irmãos porque procurei entabular uma conversa, aliás duas, com meninos de rua que me pediram dinheiro. Crentes devem dizer não aos pedidos de socorro, e mandar que todos procurem a igreja mais próxima? Não!!! Definitivamente não!!! A igreja sou eu, o sacerdócio é meu, e a responsabilidade é daquele que crê em Jesus como Cristo, eu!
Quanta hipocrisia dentro da igreja. Quanta vida mentirosa em cima dos púlpitos. Quanta corrupção na denominação. Quantas falcatruas e maracutaias ao longo de nossa história. Também podia, somos filhos de maçons sectaristas e escravacionistas dos sul dos Estados Unidos. E pensar que por pouco podíamos ter mudado nossa história (e ainda creio que temos tempo, pequeno e gritante, mas acho que temos).
Deixemos de olhar para o nosso umbigo, pasmem: ele não é o centro do mundo! “Eu tenho ciúmes da minha igrejinha de 500 membros, que me paga 6, 7 ou 10 salários, não vou dividi - lá com ninguém. Ela é minha!”; “o irmão precisa ver que não é bem assim, somos apenas um lugar administrativo, não podemos fazer devocional nem ficar orando pelos cantos, afinal de contas somos uma convenção com muitas posses a administrar”; “Fique tranqüilo, eu sei o que estou fazendo, ninguém vai descobrir meu caso, é apenas sexo. Eu amo minha mulher e meus filhos, com essa irmão é casual”.
São tantas expressões que me entristecem, acho que já deu. Deixemos de nos preocupar com picuinhas, e olhemos para o alvo. Lembremo-nos que Cristo nos mandou pregar o evangelho e fazer discípulos. E isso engendra transformações sociais profundas, mudanças pessoas irreversíveis e alterações do eu de quem o recebe. O mundo pode não clamar, mas carece de Jesus, e a igreja deveria ser apenas sua proclamadora. Será que o que passar disso vem do...?
Por hora posso parar por aqui. Mas vale dizer que pregar o evangelho implica em transformar a vida, de que prega e de quem ouve. O que passar disso é balela!
Que Deus me ajude a continuar tentando mudar...Porque, ainda há muito a fazer e aprender!
E pra fechar, um pouco mais do Gabriel, o que pensa!:
Não adianta olhar por céu, com muita fé e pouca luta. Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer e muita greve, você pode, você deve, pode crer. Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver. Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer. Até quando você vai ficar usando rédea? Rindo da própria tragédia? Até quando você vai ficar usando rédea? (Pobre, rico, ou classe média). Até quando você vai levar cascudo mudo? Muda, muda essa postura. Até quando você vai ficando mudo? Muda que o medo é um modo de fazer censura. Até quando você vai levando?
Porrada! Porrada!

Soli Deo Gloria

Comentários

Legal Ludney este post. É bom saber que ainda existem os 7000...
Fora essa fotinha que parece que você está assuando o nariz, rs.. O texto ficou muito bom.