A Panacéia do Poder Religioso


“É preciso a cada instante, passo a passo, confrontar o que se pensa e o que se diz com o que se faz e o que se é”, Michel Foucault

Agora pode parecer que estou batendo por revolta ou inconformismo, mas eu digo que, na verdade, não estou batendo, e se o estivesse fazendo, seria por merecimento e por real conhecimento de causa.
Hoje se faz notório para os que me cercam que encampo uma “nova espiritualidade”, transformada em ação concreta na abertura de uma nova comunidade, ou igreja como preferem alguns (sobre isso caberá, em breve, uma série de artigos pormenorizados), que nasce na incomodação subversiva do meu espírito, dentro desta panacéia evangélica.
Explicando melhor, panacéia vem a ser uma providência de cura que se mostra ineficaz. Deus tem sido generoso comigo quando me permite estar num lugar de visão privilegiada da situação religiosa nacional. Conquanto, a panacéia a que me refiro é a liderança religiosa, e não apenas evangélica.
Michel Foucault, postulou que “o poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e saber, constituindo verdades, práticas e subjetividades”. A sociologia define poder como “a habilidade de impor sua vontade sobre outros, mesmo se estes resistirem de alguma maneira (se não o fizerem melhor ainda)”.
E aqui eu crio (se alguém já disse ainda não sei, mas até vou olhar no google para ver se outro já pensou essa frase) uma idéia obvia, a saber, “A Panacéia do Poder Religioso”, uma verdade baseada no transcendente que promete cura, mas que na verdade é uma falácia ineficaz, ou então, a coerção do mais forte, da classe clerical, que se apresenta como legitima representante do Ser Supremo/Poderoso/Criador/Julgador, numa postura de vigário da monarquia divina na terra; impondo sua vontade egoísta e tendenciosa sobre o mais fraco, o fiel povo piedoso e generoso.
Outro dia estive envolvido em decisões religiosas que afetam diretamente a vida de milhares de fieis, mas sai desta ocasião me sentindo um déspota executivo evangélico, um sentimento de estranheza me tomou conta. Não houve orgulho em mim, não houve prazer naquele, apenas uma sórdida alegria mesquinha de me sentir parte de quem manda. Deus, me livre disso!
A igreja, católica, evangélica, maometana, etc, têm se proposto a curar os males do mundo, e oferece sua doutrina como remédio, o elixir da paz. O pote de moedas de ouros no fim do arco-íris está dentro dessas igrejas. Há 24 anos estou dentro delas, pentecostal, tradicional, neo-pentecostal, mais de seis anos em cada uma delas, e o que vejo é ostentação do poder divino nas mãos humanas. E ainda tenho muito a ver a aprender dentro da igreja.
O que digo já parece clichê, a igreja ostenta um poder que não é dela. E aqui vai minha grande critica a igreja evangélica, pois ela é quem mais se aproxima das verdades bíblicas. Não precisaríamos, tampouco deveríamos propagar nosso poder doutrinário, mas tão somente o evangelho da graça de Deus, e deixar que esta graça se encarregue do resto. Nossa participação tem limitações, mas a atuação do Espírito é por demais poderosa.
Eu sei quem eu sou, um pecador alcançado pela graça, mas existem pastores, bispos e apóstolos que acham que estão acima da punição ou julgamento divino, Deus enxerga a mim e a qualquer um com a mesma óptica. Todos debaixo do pecado. Isso é fato. Eu também sou pastor, também uso sermão e prego de terno e gravata, mas sou diferente igual a todo mundo.
O sacerdócio de poder espiritual, que tão somente é a proximidade de Deus e do evangelho de sua graça, é algo universal, está ai para quem quiser, independente de mim, como clero, e de religião, como meio. O véu se rasgou, todos indistintamente podem ser achegar a Deus. Diretamente, sem intercessores, sem mandingas, rituais, cerimônias, vestes especiais, e toda essa besteira que se vende como uma espécie de anteparo paradisíaco, ou cauções pré-céu.
O poder que a igreja herdou é um poder ministerial, de servidão, não de ostentação. Lhe foi dado realmente todo o poder nos céus e na terra, para abrir e fechar portas no céu e na terra, mas foi-lhe dado de graça, a graça, e de tal modo deve repassar. De graça.
Fazer uso mercadológico dessa graça é pecado, é crime, é feitiçaria, e é contra a vontade de Deus.
Deu a hora de ir pra casa. Outro dia termino isso, e aproveito para dizer mais sobre a gestação da igreja junto com o Espírito.

Soli Deo Gloria

Comentários