"Arrependimento para a vida..."

> Um Espaço de Graça e Vida

Lendo o cap. 11 de Atos, quando Pedro é interrogado pelos apóstolos e irmãos que estavam na Judéia, que tinham ouvido falar que os gentios também estavam recebendo com agrado a palavra de Deus; o apóstolo vai até Jerusalém, e responde a uma sabatina de perguntas, acerca dessa nova onda de “evangelho aos gentios”.
Ele conta uma história de como foi Deus quem lhe ordenou pregar aos gentios, e de que como estes também foram batizados no Espírito. Seu relato apazigua a ira e contenda que havia entre os detentores da primazia cristã do 1° séc.
O que me chamou a atenção nessa narrativa foi a forma como Pedro se surpreende com as coisas que Deus fez entre os gentios. Ele diz: “Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo. Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?”.
Quem sou eu pra resistir a Deus?? Dessa observação do apostolo nascem duas possibilidades de interpretação (pelo menos pra mim). A 1ª, que quero apenas pincelar, é mais politicamente correta. Ele, Pedro, de uma forma bem austera entende que Deus é soberano e Poderoso para conceder o dom da salvação a quem quiser, e nada mais natural do que isso também ocorrer entre os gentios, haja vista todos somos amados por Deus, ou, como cantaram Chico César, Paulinho Moska e Zeca Baleiro: “Everbody filhos de god, só não falamos as mesmas línguas”.
A 2ª é a que eu mais gostei. Pedro, o apostolo, diz ao clero judaico dominante que ele estava surpreso com o que havia acontecido em Jope, na casa de Cornélio. Pedro tinha tido uma visão, na qual ele se portava de inicio como um perfeito judeu, não querendo comer coisas impuras para não se contaminar, mas ele ouve uma voz, e se dirige a ela chamando-a de “Senhor”, e esta voz o manda matar e comer, pois ele não pode considerar imundo aquilo que Deus purificou.
E é dessa forma, considerando impuro o fato do evangelho chegar aos gentios, que Pedro defende e/ou atesta a veracidade da descida do Espírito sobre os “incircuncisos”, não porque ele concordava, mas porque Deus havia ordenado. É como se ele dissesse: “Eu vi a descida do Espírito sobre eles, da mesma forma que aconteceu entre nós. E não havia nada que eu pudesse fazer. Aparentemente eles também creram no Senhor Jesus da mesma forma que nós, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?”.
Há espanto em Pedro. O evangelho da graça de Deus não era exclusividade dos judeus. Havia espaço para outros povos serem salvos. Não apenas os descendentes de Abraão, mas também os impuros incircuncisos tinham acesso ao conhecimento salvífico do filho de Deus. E Pedro nada podia fazer para impedir isso, pois salvar todo o mundo era a real vontade divina.
Lucas, o médico, termina sua acurada historiografia dessa narrativa dizendo que “após ouvir estas coisas, acalmaram-se e louvaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida”. Houve uma mudança na postura criteriosa e hipócrita daqueles homens. Quando souberam que era Deus quem estava por trás das recentes conversões entre os gentios, eles louvaram a Deus.
A igreja, hoje, por vezes ouve que há arrependimento e transformação fora de seus limites, mas não se alegra, antes se entristece. Ora, foi o AA ou uma clinica de recuperação que proveu transformação e arrependimento, e a igreja deixou de ganhar os louros da mudança na vida de algum pecador. “Mas tal fulano ou tal coisa não é crente”, mas houve transformação. “Isso é coisa daquela Pastoral da Criança. Isso é católico. Não pode prestar”. Mas presta, e, pasmem, transforma para o arrependimento para a vida.
Calvino disse algo sobre a graça ser um dom exclusivo de Deus, fruto de sua misericórdia e Soberania, e não cabe ao homem ser seu detentor ou querer retê-la. Os apóstolos em Jerusalém entenderam isso. E louvaram a Deus.
Que a igreja, invisível e espiritual, louve ao Pai celeste todas as vezes que a alguém for concedido o arrependimento para a vida, quer dentro de seus limites ou não. E que nós, igreja invisível e espiritual, façamos nossa parte no mundo, pois não somos, mas vivemos neste mundo mal (e convenhamos, também somos maus).
Não deixemos que o “arrependimento para a vida” parta das pedras. Mas que ele seja ministrados por nós a quem precisa. É isso que queremos. Com nossa vida fazer conhecido o “arrependimento para a vida” que só há na fé em Cristo Jesus, nosso Senhor e único Salvador.


Soli Deo Gloria

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