Uma geração de babacas...

“(...) me levam a pensar na obra redentora de Deus entre os homens, não somente com Israel, nação santa e eleita, mas também com a igreja, ou a todos quanto creram ou crêem em Cristo Jesus como Filho de Deus, e salvador do mundo. As dispensações (...)”

Não sei porque, mas ao ler esse trecho de um antigo escrito meu eu me senti um babaca, não que isso nunca tenha acontecido, mas é que ultimamente tenho percebido melhor meus erros do passado, principalmente os que dizem respeito à fé. Muito mais do que religião, meu problema era como eu encarava a fé. Um mauricinho gospel, criado num seleto reduto evangélico, treinado para mandar e pregar, ensinado pela religião de que eu era superior aos outros.

Eu era um babaca. Porque considerava minha vocação, minha fé, minha igreja, minha crença e minha vida dignas de serem remuneradas pela graça com bênçãos sem fim, incontáveis presentes que deviam cair sobre mim, simplesmente porque eu era crente, porque eu era um babaca religioso evangélico, que crê ter o Deus a cuidar o tempo todo apenas do seu umbigo.

Ontem, dia 30/11/2009, saiu na mídia um vídeo de um escândalo, mais um, envolvendo o pagamento de propina (suborno) a políticos brasileiros, neste caso do Distrito Federal, e um dos envolvidos era um conhecido deputado distrital evangélico, filho de um grande homem de Deus no país.

O Brasil todo ficou chocado ao vê-lo orando e pedindo a benção de Deus sobre o operador do “mensalão candango”, e pedir perdão “por sermos falhos, mas redimidos pelo sangue”, ele é só um babaca que foi muito mal criado. Um corrupto evangélico como tantos outros, com a diferença de ter sido pego em flagrante enquanto cometia seus crimes.

Filhos de “homens de deus” tendem a puxar seus pais, os babacas-mor, os bispos, apóstolos, super-pastores, que ensinam a suas pequenas cobras que eles são DIFERENTES, SEPARADOS, de certo modo MELHORES, que a grande maioria dos mortais, pois não são filhos de ímpios, mas herança bendita do Senhor, dada aos agraciados “detentores de anunciar a graça entre os pecadores”.

O melhor de tudo isso é que eu quase fui assim. Ahuauhauhauhauhauh, é verdade. Não quero entrar em detalhes da minha criação, mas eu tive uma coisa que esses caras nunca tiveram (e nisso minha mãe fui fundamental): EU FUI EXCITADO A PENSAR COM CONSCIENCIA, e também FUI LIBERTO PARA LER COM ISENÇÃO E CURIOSIDADE MINHA BÍBLIA. TIVE LIBERDADE PARA ERRAR E ME ARREPENDER.

Historinhas como a de Jó, do Éden, do Apocalipse, nunca entraram no meu coração como verdades absolutas da forma como me eram passadas nas ebd´s. Eu sempre pensei sobre elas de modo a questionar até mesmo a minha sanidade.

Descobri que corri de perto o risco de me tornar um GRANDE BABACA DENOMINACIONAL, andei no limiar da tentação do poder religioso. Mas a sementinha de MISSÕES e LIBERDADE deu seu fruto na hora certa.

Infelizmente, filhos de muitos “homens de deus” galgam cargos políticos importantes e grassam na falcatrua com total apoio de seus “super-pais”, o sacerdote sabe, mas fazer o que?!? Como na historinha de Eli com seus dois filhos divinamente assassinados, logo no comecinho de I Sam.

Outro dia o filho de um outro grande líder evangélico brasileiro também foi vitima de denuncias graves. Isso sempre acontece. São os babacas-mor propagando a estupidez religiosa.

Geralmente a regrinha é essa: “o filho é mimado e até bem criado, depois se torna um tanto quanto carente, pois o pai só se preocupa com a igreja, minimiza sua ausência com exagerada liberdade e alguns mimos; o filho sai da igreja, ou não, mas vive como se não fosse evangélico. O pai o acoberta, faz de tudo para tê-lo ao seu lado em seu pequeno imperial particular religioso, o miserável filho acaba por se entregar àquilo que ele acha ser ‘voz de deus’, e passa a seguir, inescrupulosamente, a carreira religiosa extremamente sedutora financeiramente, que lhe é oferecida por seu ‘velho’. Ele entra, gosta, seduz e é seduzido. Seu velho pai, a estilo Jacó, acaba até com a verdade para que seu herdeiro tenha aquilo, ou mais, que hoje o velho usurpador tem.”

Essa é a mais pura verdade. Duvida??? Não faça isso, eu sei do que estou falando!!! E graças a Deus que existem milhares de exceções.

Eu nunca quis dinheiro para pregar o evangelho. Eu só quis liberdade para pregar loucura, miséria, abnegação, cruz, perdão e misericórdia. Enquanto isso, esses caras, apóstolos e apostolozinhos, adquirem impérios religiosos na pregação de temas esdrúxulos como maldição e quebra dela, batalha e fuga dela, prosperidade e como entrar nela.

Estou reclamando sim. É claro.

É também verdade que, apesar de vivenciar de perto essa realidade hereditária-religiosa-imperiosa, nunca foi me oferecido o trono da sucessão.

Ser tratado como bastardo me aproximou da cruz, me ensinou o evangelho e me inspirou a ser abnegado.

Quando sai da igreja, sai da religiosidade, para onde não volto mais. Mas, olho para trás, para dentro da igreja evangélica que fui forçado a abandonar, e me vem um nó gigante na garganta. Uma vontade de chorar enorme, contida apenas pela proximidade social tão grande que me obriga a manter a compostura.

Não pode ser essa a igreja a carregar, sozinha e exclusivamente, a mensagem da salvação. Não podem ser esses os pregadores da verdade que liberta; os pés formosos dos que anunciam as boas obras são pés humildes e cheios de amor, e não pés que carregam grandes somas de dinheiro alheio no bolso (assunto pra outro post). Se for assim, eu não sei qual o meu destino...

De um bastardo, louco, alucinado pela cruz...

Comentários

Anônimo disse…
Esse é meu filho em quem eu me comprazo( regozijo, alegro) sempre.
Te amo!!!!!!!!!!!!
Elcy
M a L u ° ° disse…
li e vou continuar lendo...

bjão!
Olá bastardo...gostei desse tema...foi muito bom ler para que eu naum faça isso com meu filho. Obrigado....parabéns pelos posts
Dudu...
Anônimo disse…
Creio que uma grama de testemunho vale mais que "quilos" de pregação...

Oxalá vc esteja sendo agraciado com sabedoria para mais tarde trabalhar na recuperação desses irmãos, que estarão tão infelizes quanto suas consciências o permitirem.

"Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, e a justiça se manifesta distorcida." [Habacuque 1:4].

"E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas." [Apocalipse 18:4].

"Assim os justos louvarão o teu nome; os retos habitarão na tua presença." [Salmo 140:13].
"Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito." [Provérbios 4:18; veja também 2 Samuel 23:4; Mateus 5:14; Filipenses 2:15].