Ei, voce ai, guarde seu dinheiro, dê seu coração no gazofilácio

Outro dia fui numa igreja qualquer por ai e ouvi o mais costumeiro pedido de dízimos e ofertas que se tem por ai: o testemunho de quem passou a ser bem sucedido após começar a dizimar! A boa e velha falácia do escambo, velha porém eficaz!

Naquela hora me deu uma vontade de pegar o microfone e contar minha história, e tentar lançar uma nova modalidade no pedido de dízimos e ofertas. O que seria? Não seria escambo, tampouco coação, nem pedido de quitação de dívida (pois é isso que acontece quando seu pastor, padre, apostolo, policial, ou qualquer outro besteira dessas diz na igreja: “momento de pagar o dízimo”), afinal de contas eu não devo nada a Deus, pois, se devesse, nunca teria condições de pagar. O que Ele me deu é gratuito, por isso a vida é graça!

Enfim, eu gostaria de levantar e dizer:

“igreja do Senhor, a palavra de Deus é doce, mas é amarga, moshé moshé erés Codó!” – brincadeirinha pra relaxar....

Na verdade eu queria dizer naquela hora, mas direi agora:

“já se vão cinco ou seis anos que eu não dizimo, ou melhor, quase não me lembro de ter dizimado. Sempre ofertei o que tinha nos bolsos, mas nunca com aquela disciplina militar de pagar a taxa mensal de 10% do que me sobra, mesmo porque nunca me sobrou muita coisa, aliás, eu nunca tive nada! Mas, ao mesmo tempo, eu sempre possui tudo, e sempre soube que tinha o mais importante: vida eterna! Tinha isso porque aos 7 anos de idade eu entreguei quem eu era a Deus.

Pois bem, o tempo passou e aos 18 anos eu começava a me preparar para ser pastor, lá se vão dez anos. Mesmo ingressando no seminário, me preparando para ser pastor, eu continuei trabalhando secularmente, e o que ganhava mal dava para pagar a mensalidade, coisa que eu fazia com muita dificuldade.Atingi meu objetivo aos 23 anos, nesse tempo todo de preparação eu fui de tudo um pouco, de estagiário de jornal a office-boy da igreja, e, claro, sempre ganhando menos do que o necessário.

No último ano do seminário eu tinha mais dívidas que o Banco Central grego, em virtude de uma empreitada equivocada para ser dono do próprio negocio enquanto o ministério não vinha, e trabalhei muito tempo para pagá-las. Para ingressar no ministério larguei um emprego que consegui para pagar essas dividas, nessa primeira igreja que trabalhei meu primeiro salário foi meio salário mínimo, algo em torno de R$170,00, enquanto fora eu poderia ganhar mais de 10x esse valor. Mas, eu amava aquela mixaria, assim como amava a igreja. Nunca pensei no ministério por dinheiro.

Como eu era o moço do pastor presidente, precisava buscar e levá-lo, o que eu fazia com prazer. Para tanto, ir e voltar da igreja dava uns 60km, e como eu fazia isso 3x por semana, no total quase 200km por semana, ou seja, meu salário era todo em condução. Enquanto isso as contas não paravam, eu tinha de comer, me vestir, ajudar em casa, pagar os credores, que não achavam bonitinho eu trabalhar de graça para a igreja.

Meu tempo mais próspero foi quando recebi, um valor bem abaixo do prometido, mas pelo menos regular do órgão regulador da denominação onde trabalhei por alguns meses. Entre tempo parado e tempo trabalhando, eu ia fazendo alguns bicos para pagar as contas mais emergenciais, e tentar colocar em ordem minha vida. Gastar com alguma coisa que me fosse útil também.

Pois bem, nos últimos 63 meses tenho trabalhado na igreja, e sendo que dos últimos 30 em 16 meses recebi um, isso mesmo, só um salário mínimo como ajuda de custo, e sabe o que me faltou? (achou que eu diria nada, neh?) me faltou muita coisa. Não tive acesso a muita coisa que todo cara na minha idade quer, alguma vezes dormi com fome enquanto outros comiam na minha frente, algumas vezes fiquei sem gasolina no meio da rua, fui pra fila do SUS para ser atendido quando fiquei doente, pedi dinheiro emprestado a quem tinha menos que eu (e paguei), e tantas outras coisas que não convém contar agora, enfim, faltaram algumas coisas que até me fariam feliz.

Todavia, hoje, desempregado e sem dinheiro algum(abri minha carteira e encontrei apenas duas palhetas – quem sabe possa parar numa esquina qualquer e tocar alguma musica em troca de um dinheiro), eu tenho uma consciência do evangelho e de Jesus Cristo que me dão uma paz tão grande, e me causam uma felicidade tão absurda que eu tenho vontade de olhar pro cara que abastece meu carro e dizer: “ei, cara, eu te amo porque Deus nos ama”, tenho vontade de abraçar o pai que estende a mão para o filho atravessar a rua e dizer: “ei, parabéns bixo, to feliz por você, continue assim”, tenho vontade de dizer para a senhora que me atende no açougue :" não desperdice seu tempo odiando, ame esse seu menino que te ajuda aqui, ame-o com toda sua força", tenho vontade de dizer para o drogado que agride os pais: "cara, não faça isso com quem mais te ama. Se quiser ter uma vida boa, ame quem te mais ama, lembre-se do único mandamento com promessa", enfim, tenho de vontade de gritar para o mundo inteiro ouvir o quanto eu sou feliz tentando imitar Jesus. Algumas vezes me pego rindo sozinho, simplesmente por ter certeza de que minha vida não vale nada se Deus nela não cumprir o seu querer, vida essa que Ele, Deus, já possui inteiramente.

Eu deito, e durmo. Eu acordo, e sorrio. Eu ando, e encaro o horizonte. Eu olho, e te encaro de igual, olho no olho. Minha postura é ereta, não devo nada a ninguém (ainda, pelo menos), olho o grande como se eu fosse grande, olho o pequeno como se eu fosse um nanico. Meu coração não é meu, minha vida não é minha, e isso é fantástico. Essa consciência de que existe alguém intercedendo incessantemente por você junto ao pai diuturnamente.

Acreditar e ter paz! Amar e ser feliz! É isso que importa!

Dar o dízimo é besteira, perda de tempo e dinheiro se seu coração está distante de Deus e sua vida longe da vida de quem precisa.

Guarde seu dinheiro, Deus não precisa dele, Deus quer você!

Hoje eu acredito, tenho paz, amo e sou feliz. Porque eu dei meu bem mais precioso: minha vida! De modo que tudo o que tenho é de Deus, não é meu, usufruo daquilo que o Pai me permite ter.

Ele é o Senhor. Dono de tudo, 10 % da minha grana não o deixará mais feliz comigo, 100% da minha vida sim, isso sim fará com que minha vida tem sentido nas mãos do Criador!

Então, agora é hora dos dízimos e das ofertas, se você quer abençoar alguém com algo mais do que você mesmo, então venha, se não, guarde seu dinheiro para você, ele não vale se não vier junto com seu coração.

E ah, também não venha crendo no deus da troca, ande algumas quadras e certamente você encontrará uma universal, lá você pode fazer isso.

Que Deus nos abençoe”

Era isso que eu diria.

Eu te amo brother!

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